Namoro adolescente

 
NAMORO DE ADOLESCENTES

15/12/2008 
Por Alexandre Ribeiro


 


O caso do assassinato da jovem Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, por seu ex-namorado, Lindemberg Fernandes Alves, de 22 anos, após tê-la mantido por cem horas em cárcere privado, em Santo André, São Paulo, chocou o Brasil há pouco tempo atrás.


 Diante dos muitos questionamentos que o episódio levantou sobre o tema do namoro envolvendo adolescentes, Zenit entrevistou uma médica e logoterapeuta para que ela desse algumas orientações sobre o assunto.


 A Dra. Elizabeth Kipman Cerqueira é médica ginecologista, especialista em logoterapia, diretora do Centro Interdisciplinar de Estudos em Bioética (CIEB) do Hospital São Francisco, em Jacareí, interior de São Paulo, e membro da Comissão de Bioética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).


 Namoro exige maturidade? Por quê?


 Dra. Elizabeth: No namoro, estão envolvidos sentimentos, por vezes intensos pois, freqüentemente, ele se inicia motivado por forte atração recíproca envolvendo auto-estima, ciúme, desejo de posse, conquista e sedução. É preciso lidar com estas situações e viver o namoro como uma fase de conhecimento interpessoal e descoberta de valores capazes de fundamentar uma convivência de compromisso recíproco. É preciso não girar em torno de si próprio, mas ter capacidade de olhar o outro, respeitá-lo, procurar não magoá-lo, ajudá-lo a crescer. Isso exige um crescimento por toda a vida, porém um mínimo de maturidade é exigido para iniciar um namoro.


 Um adolescente está preparado para exercer essa maturidade?


 Dra. Elizabeth: De modo geral o adolescente não está preparado para assumir o namoro como um compromisso recíproco que exige responsabilidade em relação a si mesmo e ao outro. Sobretudo com a influência da “cultura desencanada” de hoje, o namoro já supõe a livre intimidade física, certa indiferença pelo outro, uma vez que o pensamento é centrado em si e em aproveitar os momentos buscando novas experiências. Há a baixa tolerância para adiar satisfações imediatas e a decidir pelo impulso. Ele ainda não teve tempo para o autoconhecimento e terá muita dificuldade para conhecer outra pessoa diferente dele. A tendência será de se fechar num círculo de emoções intensas e frágeis onde o restante do mundo é ignorado.


 Uma das situações que evidenciam esta imaturidade, sem dúvida, é o número crescente de gestações entre os adolescentes. Pesquisas no mundo todo mostram que, para a grande maioria, não há o desconhecimento dos métodos nem a impossibilidade em obtê-los. O que existe é uma mistura do pensamento mágico de que a gravidez não vai acontecer com o próprio desejo mais ou menos inconsciente de engravidar. Ou seja, há a evidência da imaturidade junto com o ciúme, com a intolerância à negativa afetiva, como aconteceu no caso da Eloá, veiculado largamente na mídia.


 Como os pais devem proceder para orientar os filhos adolescentes no campo afetivo?


 Dra. Elizabeth: A orientação para o campo afetivo se encontra dentro do conjunto da formação pessoal. É impossível orientar apenas para o namoro sem orientar para a responsabilidade, discernimento de valores e exercício da vontade. Justamente o oposto de agir apenas pelos impulsos centrados em si mesmo. É preciso que reconheçam a existência de limites. É preciso dizer “não” quando necessário, apresentando os critérios que motivaram a negativa. É preciso confiar que eles têm o potencial para o desenvolvimento pessoal, mas que precisam de tempo, de vivência para atingir uma maturidade mínima que os conduz diante das diferentes motivações afetivas positivas e negativas. É preciso não aderir à superficialidade da afirmativa corrente: “O jovem precisa disto – apenas lhe forneça a camisinha”. Esta afirmativa desvaloriza o jovem, reduzindo-o apenas a um resultado inconsciente de impulsos que usa do outro como objeto. O jovem aspira ao grande, ao belo, ao amor, à honestidade, à sinceridade. Precisa que os pais o auxiliem a exteriorizar estas aspirações em atos pessoais.


 Que critérios os pais podem utilizar para estabelecer uma idade a partir da qual possam permitir e orientar os filhos para o namoro?


 Dra. Elizabeth: A percepção deve vir da própria vida em família e da vida diária: pela participação nas responsabilidades em casa; no esforço para superar as competições com os irmãos; na abertura para colaborar; no respeito às pessoas, sobretudo aos próprios pais; na seriedade com o estudo; na sinceridade em reconhecer os erros e em corrigi-los; na capacidade em suportar frustrações inevitáveis, consciência dos próprios atos mesmo sem a vigilância de outrem, etc.


 Também é necessário o esclarecimento através de diálogo sincero sobre o namoro, relacionamento sexual, relacionamento interpessoal, diferenças do homem e da mulher na cultura atual. Buscar apresentar valores religiosos positivamente fundamentados e não como elementos coercitivos. Não há propriamente uma idade, há sinais de um mínimo de maturidade. Entretanto, dificilmente estes sinais se manifestam antes de 14 a 15 anos. A planta necessita de tempo para sair do solo e a fruta necessita de tempo para amadurecer. Mesmo tomando todo o cuidado, sem uma postura rígida, mas com a exigência firme nascida da ternura, o resultado irá depender da liberdade de escolha do filho. Porém, os pais terão feito a sua parte.


 O que a senhora diria para os adolescentes que pensam em iniciar um namoro?


 Dra. Elizabeth: Considerando que já apresentem aquele mínimo de maturidade até para entender as colocações seguintes? Diria: nascemos do Amor que nos amou desde sempre, do centro do Amor maior de todo o universo, que é o coração de nosso Deus Uno e Trino. Vocês são convidados a entrar nesta ciranda de Amor a partir da participação com os que estão mais próximos de vocês: família e amigos. Ao iniciar um namoro, estão optando por iniciar uma vida adulta. É isto mesmo o que desejam? A decisão do namoro não é um jogo de sedução e posse, de auto-afirmação. O namoro é tempo de alegrias e tristezas, de provas e de lutas, de ajuda mútua, de conhecimento e de colocação de limites. Os sonhos e fantasias não constroem a felicidade. Antes, a felicidade é o resultado de atitudes conscientes e fortes a partir dos valores que vocês escolhem. E, sobretudo, o namoro é tempo de conhecimento recíproco e não de posse recíproca definitiva. Sobre estas bases, no Deus-Amor, vivam a alegria da ternura, do respeito um pelo outro que faz crescer para a vida!
 
  

A graça de ser só


A graça de ser só


Há pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar


Ando pensando no valor de ser só. Talvez seja por causa da grande polêmica que envolveu a vida celibatária nos últimos dias. Interessante como as pessoas ficam querendo arrumar esposas para os padres. Lutam, mesmo que não as tenhamos convocado para tal, para que recebamos o direito de nos casar e constituir família.



Já presenciei discursos inflamados de pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar.



Eu também fico indignado, mas de outro modo. Fico indignado quando a sociedade interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida sexual. Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em argumentos rasos, limitando uma questão tão complexa ao contexto do “pode ou não pode”.



A sexualidade é apenas um detalhe da questão. Castidade é muito mais. Castidade é um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de doação plena. Digo por mim. Eu não poderia ser um homem casado e levar a vida que levo. Não poderia privar os meus filhos de minha presença para fazer as escolhas que faço. O fato de não me casar, não me priva do amor. Eu o descubro de outros modos. Tenho diante de mim a possibilidade de ser daqueles que precisam de minha presença. Na palavra que digo, na música que canto e no gesto que realizo, o todo de minha condição humana está colocado. É o que tento viver. É o que acredito ser o certo.



Nunca encarei o celibato como restrição. Esta opção de vida não me foi imposta. Ninguém me obrigou a ser padre, e, quando escolhi sê-lo, ninguém me enganou. Eu assumi livremente todas as possibilidades do meu ministério, mas também todos os limites. Não há escolhas humanas que só nos trarão possibilidades. Tudo é tecido a partir dos avessos e dos direitos. É questão de maturidade.



Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só. Não vivo lamentando o fato de não me casar. Ao contrário, sou muito feliz sendo quem eu sou e fazendo o que faço. Tenho meus limites, minhas lutas cotidianas para manter a minha fidelidade, mas não faço desta luta uma experiência de lamento. Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida. Não tenho medo das minhas quedas. Elas me humanizaram e me ajudaram a compreender o significado da misericórdia. Eu não sou teórico. Vivo na carne a necessidade de estar em Deus para que minhas esperanças continuem vivas. Eu não sou por acaso. Sou fruto de um processo histórico que me faz perceber as pessoas que posso trazer para dentro do meu coração. Deus me mostra. Ele me indica, por meio de minha sensibilidade, quais são as pessoas que poderão oferecer algum risco para minha castidade. Eu não me refiro somente ao perigo da sexualidade. Eu me refiro também às pessoas que querem me transformar em “propriedade privada”. Querem depositar sobre mim o seu universo de carências e necessidades, iludidas de que eu sou o redentor de suas vidas.



Contra a castidade de um padre se peca de diversas formas. É preciso pensar sobre isso. Não se trata de casar ou não. Casamento não resolve os problemas do mundo.


Nem sempre o casamento acaba com a solidão. Vejo casais em locais públicos em profundo estado de solidão. Não trocam palavras nem olhares. Não descobriram a beleza dos detalhes que a castidade sugere. Fizeram sexo de mais, mas amaram de menos. Faltou castidade, encontro frutuoso, amor que não carece de sexo o tempo todo, porque sobrevive de outras formas de carinho.



É por isso que eu continuo aqui, lutando pelo direito de ser só, sem que isso pareça neurose ou imposição que alguém me fez. Da mesma forma que eu continuo lutando para que os casais descubram que o casamento também não é uma imposição. Só se casa aquele que quer. Por isso perguntamos sempre – É de livre e espontânea vontade que o fazeis? – É simples. Castos ou casados, ninguém está livre das obrigações do amor. A fidelidade é o rosto mais sincero de nossas predileções.


Padre Fábio de Melo


 

A pureza do olhar


A pureza do olhar


É olhar com carinho para o outro

Ter olhos puros é ter uma conexão direta com nosso coração. Quando Deus transforma o nosso jeito de pensar, modifica também o nosso jeito de olhar as coisas e as pessoas. Vemos as coisas com os olhos da pureza, sem preconceito. Olhar as pessoas com pureza significa permitir que elas sejam vistas por nós como se estivessem sendo vistas por Jesus.



É muito bonito descobrirmos que, na oportunidade de encontrar o outro, também encontramos um pouquinho daquilo que somos. Há duas formas da fazermos isso: nos alegrando quando vemos, refletido no outro, um pouco daquilo que temos de bom. Mas também podemos nos entristecer, quando vemos o que o outro tem de ruim e descobrimos que somos ruins também daquele jeito.


Por isso é natural que, muitas vezes, aquilo que eu escuto de ruim do outro eu acabo não gostando, porque, na verdade, ele me mostra o que eu sou.



Ter a pureza no olhar significa você se despir de tudo e começar a olhar com carinho e liberdade para aquilo que o outro é, permitindo que esse seja o encontro frutuoso, tanto para nos mostrar o que temos de bom e para nos indicar no que precisamos ser melhor.



Neste dia de Santa Luzia, desejo que todos nós tenhamos os olhos puros.



Padre Fábio de Melo

Desafio da Nova Evangelização


Desafio da Nova Evangelização


Qual será o anúncio da Missão a que somos chamados a executar?


O anúncio do Evangelho, por dois mil anos, ofereceu à Europa e muitos outros paises a mais profunda possibilidade de transformação, enquanto influenciou suas culturas com a sua novidade. Hoje, porém, essa evangelização não pode ser considerada como conquista definitiva.



Tantos cristãos identificam a fé com uma série de práticas devotas, mas não como plena adesão a Cristo. Outros foram colocados em crise pela difundida cultura secularizada e niilista e assumiram modelos éticos longe do Evangelho. O secularismo é o abandono da fé, da religião e da Igreja: uma vida sem Deus. O relativismo é o abandono das leis, dos mandamentos e da verdade: cada um decide como quer. Outros ainda são atraídos por experiências de espiritualidades que não têm raízes no húmus cristão. O próprio diálogo inter-religioso, que é um valor a ser cultivado convictamente, suscita, em muitos, dúvidas sobre a própria fé: por que crer à maneira cristã, e não à maneira dos muçulmanos ou dos budistas ou dos hinduístas?



A 5ª Conferência dos Bispos da América Latina e Caribe, em Aparecida, apontou também, como desafio à evangelização, a iniqüidade social. Na Bíblia, o mistério da iniqüidade é o anti-Cristo, anti-reino, é o mal organizado, uma realidade diabólica. O continente latino americano tem o maior número de católicos e também a maior iniqüidade social. A globalização é um processo promotor de iniqüidades: criando estruturas que favorecem sistema econômico iníquo, onde a exploração dos mais pobres, a opressão e a exclusão geram o desprezo aos considerados descartáveis por não produzirem, pesados à previdência de saúde e aposentadoria.



Põe-se hoje o problema de uma fé consciente, que nos faça crer e anunciar com força quanto recebemos da Palavra de Deus: “Ao nome de Jesus dobre-se todo joelho nos céus, na terra e nos abismos; e toda língua proclame: Jesus Cristo é o Senhor!” (Filipenses 2, 10-11).


Ao início do terceiro milênio, João Paulo II convidou a Igreja para “partir de novo de Cristo” e indicou as linhas fundamentais de uma pastoral animada pela contemplação do Rosto de Cristo. Assim os bispos do Brasil apontaram o objetivo do plano de pastoral: Queremos ver Jesus, Caminho, Verdade e Vida, para sermos discípulos de Jesus e missionários do Evangelho.



Bento XVI quis caracterizar o ano pastoral corrente como “Ano Paulino”, justamente quando transcorrem dois milênios de seu nascimento. “O apóstolo Paulo, figura excelsa e quase inimitável, mas de qualquer maneira estimulante, está diante de nós como exemplo de total dedicação ao Senhor e à sua Igreja, bem como de grande abertura à humanidade e às suas culturas. Portanto, é justo que lhe reservemos lugar especial, não só na nossa veneração, mas também no esforço de compreender aquilo que ele tem para nos dizer, a nós cristãos de hoje.”


Qual será o anúncio da Missão a que somos chamados a executar? É o kerigma de Cristo nosso Deus e Salvador, morto e ressuscitado por nós. Pode ser sintetizado na Palavra de Deus escrita por João 3, 17: “Deus não mandou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo se salve por meio dele”. É oferta e não imposição de Deus para nossa aceitação. O gesto de amor espera resposta de amor à iniciativa de amor de Deus. No texto evangélico estão sintetizados os elementos que estruturam a nossa fé em Jesus. De um lado, nós o proclamamos Filho de Deus, “gerado, não criado, da mesma substância do Pai”; de outro lado, anunciamos que ele se fez homem para nossa salvação. O nome de Jesus significa “Deus salva”.



Este anúncio vai ao coração das expectativas, esperanças do homem. Como não estar interessados na salvação? Muitas vezes, na verdade, contentamo-nos de referi-la a aspectos parciais de nossa esperança: a saúde, o trabalho, a economia, a família, o ambiente… A salvação trazida por Jesus não exclui a vida terrena, mas nos traz outras expectativas: o dom do infinito de que ele nos faz participantes da sua vida. O cristianismo é a notícia de que aquele infinito, ao qual aspira o coração humano, nos veio ao encontro com o rosto e o coração de Cristo, vivido e testemunhado pelos cristãos que se fizeram verdadeiros discípulos e enviados de Cristo.


Cardeal Geraldo Majella Agnelo