Autor: Rosário Perpétuo
Abalando as estruturas de nossa consciência
Abalando as estruturas de nossa consciência
É muito fácil a gente cair na religião do mito
Nós somos capazes de seguir uma regra a partir do momento em que a conhecemos. O Deus que nós anunciamos não é uma ameaça.
Religião que só nos mostra a cruz é uma religião infértil, porque eu não sou filho do calvário, eu sou filho do Ressuscitado – e quem eu anuncio sempre é o Ressuscitado.
Se cada um de nós, hoje, tivesse a oportunidade de contar o que passamos, de escrever a nossa história, tudo o que tivemos de sofrimento e sangue, não teria editora suficiente para tantos livros. Todos nós passamos pelo “calvário”, mas você não pode ficar parado aí. Nesse calvário, você tem duas opções: ou esquece o peso da cruz ou olha que tem um Cirineu do seu lado. Nós queremos a ressurreição, mas não queremos o calvário.
É muito fácil a gente cair na religião do mito – Jesus já nos alertava o tempo todo para o culto dos ídolos – e a idolatria é um dos principais problemas religiosos no mundo. Esse é um risco que todos nós corremos, quando a nossa admiração por alguém, ou por uma pessoa se torna essencial, colocada acima, em termos de importância do que aquele que a pessoa anuncia.
Temos que viver uma religião que seja capaz de mexer com as estruturas da nossa consciência, a ponto de nos fazer acordar para tudo aquilo que não sabíamos que existia dentro de nós.
Já estávamos inconscientes e acostumados com o nosso jeito ciumento de amar, jeito ciumento de possuir as pessoas, achando que isso era amor. Eu já era desonesto nas pequenas coisas e já estava acostumado. Até que um dia uma palavra profética varou as estruturas da minha vida e me incomodou. Uma palavra profética tem o poder de fazer algo, de acordar os surdos e aqueles que estão dormindo e que já não escutam mais nada, num sono letárgico, ou até mesmo num cumprimento de rituais inférteis que já não servem de nada para a nossa salvação.
A religião que Jesus quer de nós é esta: que você fixe os olhos céu, que você busque o céu. É disso que Jesus fala: “Não venha me dizer o que você fazia antes, não me importa o que você fazia. O que faz diferença para mim é o quanto a minha Palavra conseguiu transformar o seu coração a ponto de transformá-lo numa pessoa melhor”. A ponto de você olhar para trás e dizer: “Antes eu era assim, e pela força da Eucaristia, do Evangelho, do terço, eu mudei”.
Você percebe que a sua vida não é mais a mesma, porque você mudou o seu jeito de pensar, modificou o seu jeito de ser.
Você acha que nós vamos ser santos sem sacrifício?
A dor sinaliza que alguma coisa precisa ser cuidada. Eu sei das minhas lutas, mas estou satisfeito, porque eu não me prendo àquilo que eu não posso, mas sim Àquele que me anima. A semente passa por todo um processo de crescimento, mas ela sabe que se não deixar de ser o que é, não atingirá seu objetivo.
Se eu não tivesse sofrido do jeito que eu sofri, se eu não tivesse amado do jeito que eu amei, eu não teria nada para contar a vocês. Não tem jeito de amar sem sofrer.
Não sinta vergonha de nada que viveu, porque depois que passou por aquele momento, você sabe o que você sofreu para chegar onde chegou. A dor é o preparo. A sua dor não pode ser em vão.
(Artigo produzido a partir da homilia de 26/08/2007)
Padre Fábio de Melo SCJ
Maria, a Mulher prometida desde o início
Maria, a Mulher prometida desde o início
“Senhor, com teu poder, preciso ser libertador. Muita gente precisa de libertação, precisa de mim. Como Maria eu digo: ‘Eis aqui a servo do Senhor, faça-se em mim segundo a sua Palavra'”. O Filho de Maria traz a marca da realeza, Ele é rei. Grande será o Reino d’Ele e a paz não há de ter fim. Muita gente diz, mesmo entre os cristãos, que Maria é uma mulher como outra qualquer e que, em certo momento, deu à luz Jesus. Lembro-me de um tempo em que eu me perguntava por que Jesus havia chamado a Mãe de “mulher” nas Bodas de Caná. Pensei que isso era costume dos judeus; mas não, eles eram muito respeitosos. E também lá, aos pés da cruz, Jesus diz a Ela: “Mulher, eis aí o teu filho” (cf. Jo 19, 26). Por que Ele a está chamando de “mulher” diante de uma situação tão séria?
Graças a Deus, o que me ajudou a entender isso está no livro do Gênesis (cf. Gn 3,15). Logo depois do pecado de Adão e Eva, quando Deus começa um diálogo com eles, vemos que Ele não abandona a humanidade, pelo contrário, Ele diz à serpente: “Porei inimizade entre ti e a Mulher, e entre a tua descendência e a dela. Ela te esmagará a cabeça, e tu tentarás ferir o seu calcanhar” (Gn 3,15).
Então, meus irmãos, nas Bodas de Caná, quando Jesus estava começando o ministério d’Ele, Ele recorda para a Virgem Maria que Ela é a Mulher do Gênesis. Aí está a beleza: Maria é a Mulher já prometida desde o início da humanidade, quando Deus já mostrava que Ela teria um descendente, que seria nosso Salvador. No alto da cruz, quando Jesus está findando sua missão na Terra, Ele chama Maria novamente de “Mulher”, trazendo, mais uma vez, à realidade a Mulher do Gênesis: “Eis aí o teu filho”.
“Eu também sou filho desta Mulher, sou descendência dela. Jesus é o primeiro descendente, e eu, em Jesus Cristo, sou descendência dela e não da serpente. Obrigado, Senhor, é por isso que eu exalto a Mulher do Gênesis, das Bodas de Caná e dos pés da cruz”.
seu irmão,
Monsenhor Jonas Abib
Pessoas depressivas, como ajudá-las?
Pessoas depressivas, como ajudá-las?
Vivenciar Cristo abre a esperança e estimula a escolher a vida
O papel daqueles que cuidam de pessoas deprimidas, e não têm uma tarefa terapêutica específica, consiste sobretudo em ajudá-las a recuperar a auto-estima, a confiança nas próprias capacidades, o interesse pelo futuro, o desejo de viver. Por isso, é importante estender a mão aos doentes, fazer com que eles sintam a ternura de Deus, integrá-los numa comunidade de fé e de vida na qual possam sentir-se acolhidos, compreendidos, sustentados, dignos, numa palavra, amar e ser amados. Para eles, como para qualquer outro, contemplar Cristo e deixar-se “guiar” por Ele é a experiência que os abre à esperança e os estimula a escolher a vida (cf. Dt 30, 19).
No percurso espiritual, a leitura e a meditação dos Salmos, nos quais o autor sagrado expressa em oração as suas alegrias e as suas angústias, pode ser de grande ajuda. A recitação do Rosário permite encontrar em Maria uma Mãe amorosa que ensina a viver em Cristo. A participação na Eucaristia é fonte de paz interior, tanto para a eficácia da Palavra e do Pão da vida, como pela inserção na comunidade eclesial.
Sabendo muito bem quanto custa para uma pessoa com depressão o que para os outros parece simples e espontâneo, é preciso ajudá-la com paciência e delicadeza, recordando o conselho de Santa Teresa do Menino Jesus: “Os pequeninos fazem passos pequeninos”.
No seu amor infinito, Deus está sempre perto daqueles que sofrem. A enfermidade pode ser uma estrada para se descobrir outros aspectos de si mesmos e novas formas de encontro com Deus. Cristo escuta o clamor daqueles cuja barca é ameaçada pela tempestade (cf. Mc 4, 35-41). Ele está presente junto deles para os ajudar na travessia e guiá-los em direção ao porto da serenidade recuperada.
O fenômeno da depressão recorda à Igreja e a toda a sociedade como é importante propor às pessoas, e especialmente aos jovens, modelos e experiências que os ajudem a crescer nas dimensões humana, psicológica, moral e espiritual. Com efeito, a ausência de pontos de referência não pode senão contribuir para tornar a pessoa mais frágil, induzindo-a a considerar que todos os comportamentos se equivalham. Deste ponto de vista, o papel da família, da escola, dos movimentos jovens, das associações paroquiais é muito relevante devido à incidência que tais realidades possuem na formação da pessoa.
Portanto, é significativo o papel das instituições públicas para garantir condições dignas de vida, particularmente às pessoas abandonadas, enfermas e idosas. Igualmente necessárias são as políticas para a juventude, que visam oferecer às novas gerações motivos de esperança, preservando-as do vazio e dos seus perigosos substitutivos.
Extraído do discurso, na conferência internacional sobre “a depressão” (novembro de 2003)
Ascese: Organizar o tempo
Ascese: Organizar o tempo
Não podemos viver ao sabor do improviso
A palavra “ascese” precisa deixar as páginas empoeiradas de nossos dicionários e ganhar espaço na vida. Junto com ela a palavra “mística” são como os dois trilhos por onde caminha o trem da santidade. A mística significa “buscar as coisas do alto”. Um resumo do caminho místico está na primeira parte da oração do pai-nosso. Louvamos o Pai que está no céu, santificamos seu nome, pedimos que venha logo o Reino do Céu, e desejamos que sua vontade soberana reine em nosso mundo do jeito que já reina no paraíso.
A “ascese” significa a disciplina necessária para “buscar as coisas da terra”. Não somos anjos. A segunda parte do pai-nosso é um roteiro de “ascese” para nós, comuns mortais. Pedimos o pão de todo dia, conquistado pelo suor e pelo trabalho. Combatemos toda preguiça. Nos compromentemos a viver em fraternidade, perdoando o que for necessário e pedindo perdão a Deus. Suplicamos que o Senhor nos preserve em pé na hora da tentação e que nos liberte de todo o mal.
Uma das formas de viver a “ascese” é organizar bem o nosso tempo. Como pecamos pela perda de tempo!!! Muitas vezes gastamos horas com bobagens. A ascese de usar bem cada minuto exige disciplina e inteligência. Conheço pessoas que simplesmente não sabem o que fazer com o tempo livre. Acabam deixando os minutos passarem e aquela listinha de coisas a fazer continua pendurada na porta da geladeira.
Faça o teste. Se você quiser pedir um favor, peça-o para alguém ocupado. Pessoas que tem tempo sobrando normalmente não têm tempo para ninguém.
É curioso o modo como Jesus utilizou seu tempo. Ficou 30 anos em Nazaré trabalhando com seu pai. Em três anos apenas tornou-se o pregador mais famoso da história e realizou seu plano de salvação. Precisamos aprender esta lição. É necessário gastar mais tempo preparando bem as coisas do que executando-as. Não podemos viver ao sabor do improviso. Jesus se preparou bastante. Bastaram três anos para realizar a obra. Quando prepara um retiro, um sermão, uma palestra, um show de evangelização, uma aula, normalmente o tempo que levo preparando é maior do que os minutos da apresentação. Mas quanto mais preparo, mais as pessoas se sentem amadas na hora da apresentação. Um músico ensaia horas para executar uma canção de 4 minutos. Isto é a “ascese do tempo”.
Padre Joãozinho, SCJ



























