Testemunhos evangélicos

Testemunhos
evangélicos

 

O primeiro testemunho que encontramos sobre a
presença de Maria e de seu culto na Igreja primitiva são os próprios evangelhos
e epístolas. São textos conhecidos e trazem em germe, toda a doutrina sobre a
Virgem Maria, Mãe de Deus, o que podemos descrever em outro momento. Basta
citar São Lucas que nos Atos diz que procurou as testemunhas. Ele deve ter
colhido de Maria mesmo, ou dos que lhe estiveram próximos, os testemunhos sobre
o nascimento e a infância de Jesus.

 

A
arqueologia mariana

 

Nos século III, isto é, entre 200 e 300 já havia
o costume de rezar a Nossa Senhora, com o título de Mãe de Deus. Foi nos
deixado testemunho em um papiro egípcio: “À sombra de vossa misericórdia, nós
nos refugiamos, ó Mãe de Deus. Não desprezeis nossas súplicas na tentação, mas
livrai-nos dos perigos, ó toda pura e bendita”. Os ensinamentos já se tinham
tornado oração do povo. Temos igualmente em um óstracon do século V, isto é,
(401-500). Óstracon é um pedaço de telha ou vaso quebrado. Estes cacos serviam
para até para votação. Eis o texto: “Virgem Mãe de Deus, salve, cheia de graça,
o Senhor está contigo. Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de
teu ventre, pois geraste o Salvador de nossas almas”. Estão aí os primeiros
passos de nossa oração tão querida, a Ave-Maria. Encontramos também uma
belíssima pintura na catacumba de Priscila que nos mostra, pelos anos de 270,
como o ensinamento tinha já se tornado devoção e arte. Ali, a mais de 20 metros
abaixo do nível da rua, em um corredor da catacumba há uma pintura de Maria.
Deveria ser um túmulo importante, pois há diversas pinturas usando a técnica do
estuque pompeiano. A pintura retrata o profeta Balaão ao pronunciar o oráculo
messiânico: “Vejo, mas não agora, contemplo-a, mas não está perto. Uma estrela
levanta de Jacó, um cetro se levanta de Israel” (Nm 24,17). Deve ser a primeira
pintura de Maria. O profeta (pagão) aponta a estrela e Maria está assentada com
o Menino ao colo. É a Mãe de Deus. 

 

Alguns
escritores antigos

 

Se Maria se encontrava na arte e na devoção
popular, era porque já se desenvolvera bem sua presença na teologia. Não
devemos pensar que Jesus, ao subir ao Céu, tenha deixado tudo escrito. Coube
aos apóstolos e primeiros discípulos irem compreendendo, com a assistência do
Espírito Santo, os ensinamentos de Jesus e suas conseqüências. Encontramos,
entre os primeiros, Inácio de Antioquia martirizado em 110. Ele diz na carta
aos Efésios: “No princípio deste século permaneceram ocultos a virgindade de
Maria e sua gravidez, como também a morte do Senhor; três mistérios
importantíssimos que foram realizados no silêncio de Deus” Afirma também:
“Jesus nasceu de Maria e de Deus”. S. Justino, mártir (165), é o primeiro
escritor, depois do Evangelho, a chamar Maria a Virgem por excelência. É o
primeiro a estabelecer o paralelismo entre Eva e Maria: “Eva, ainda Virgem
concebeu a palavra da serpente e gerou a desobediência e a morte. Maria,
respondeu ao anjo: ‘que me seja feito segundo tua palavra’” (Diálogo 100,2-4).
Assim começa a crescer o conhecimento de Maria, seus atributos e seu lugar no
plano da salvação. Os autores cristãos vão aprofundando a fé e mostrando-nos as
verdades que ela contém. 

 Pe.
Luiz Carlos de Oliveira, C.Ss.R.

  

O evangelizando é um comunicador

O evangelizando é um
comunicador

 

Mais importante que os
meios usados é o comunicador

A
Igreja existe para evangelizar, para comunicar a Boa Nova do Evangelho e fazer
discípulos de Jesus entre todos os povos. Esta é a missão que o Senhor confiou
à Sua Igreja, com a garantia de que Ele estaria com ela [Igreja] até o fim do
mundo (cf. Mt 28,19). Obedientes ao mandato de Jesus, os apóstolos, logo após a
Ascensão de Cristo, saíram para proclamar a Boa Notícia por todos os lugares
(cf. Mc 16,20).

A mensagem de Jesus não é esotérica, isto é, não é para ficar escondida ou
reservada a algum grupo de iniciados, a alguma seita ou religião; ao contrário,
ela é destinada a todos os povos: “O que vos é dito aos ouvidos, proclamai-os
sobre os telhados
” (Mc 10,27).

São
Paulo, após a sua conversão, compreendeu essa necessidade de comunicar a
mensagem do Evangelho de maneira radical: “
Anunciar o Evangelho
não é título de glória para mim; é, antes, necessidade que se me impõe. Ai de
mim, se eu não evangelizar

(I Cor 9,16).

Diante desta urgência da missão, a Igreja não pode deixar de usar os modernos e
potentes meios de comunicação, como a imprensa, o rádio, o cinema, a TV, o
celular, a internet e outros mais, para comunicar a uma imensa multidão de
pessoas a mensagem de Cristo, “o Salvador do homem e da história, Aquele em
quem todas as coisas alcançam sua perfeição
” (Bento XVI).

Não podemos nos esquecer de que os meios de comunicação são apenas instrumentos
para nos comunicar, não são bons nem maus; tudo depende da finalidade de seu
uso. Eles não devem substituir o contato pessoal, pois a comunicação 
é,  antes de tudo, relação entre pessoas para criar  comunhão, pois o
homem é um ser relacional e a comunicação é essencial em sua vida.

Mais
importante que os meios usados é o comunicador e  a mensagem que ele
transmite
.  Aliás, este é
o sentido da palavra “comunicação”, que vem do latim “
communis” e significa “comunidade”. Não
devemos, pois,  nos isolar das pessoas que estão ao nosso lado, nem querer
construir um mundo paralelo, diferente daquele em que vivemos.

Mesmo não tendo os meios modernos de comunicação ao seu alcance, você,
discípulo e missionário de Jesus, deve ser um evangelizador, um comunicador, em
sua casa, em seu trabalho e na sua vida social.

Dom Raymundo Damasceno Assis
Cardeal arcebispo de Aparecida

 

Na escola de Jesus

Na escola de Jesus

Neste mês de maio pudemos manifestar de muitos
modos o amor a Nossa Senhora. Certamente isso encheu nosso coração de alegria e
esperança. Notamos também que cresceu muito, nestes últimos tempos, a devoção e
o amor a Nossa Senhora. É um bom sinal, pois, amando a Mãe, chegamos facilmente
a amar o Filho. As historinhas contam quanto bem fez às pessoas uma simples
expressão de devoção a Nossa Senhora. Quando queremos falar sobre Maria, sobre
sua vida, missão na Igreja, deparamos com um problema que me angustia no
momento: como lidar com uma Nossa Senhora que é uma mulher do povo de Deus e o
mesmo tempo, elaborar uma reflexão teológica. Maria não é uma idéia, uma
reflexão, um esquema de ensinamento sem referência a uma pessoa. Por outro lado
ela não pode ser reduzida a uma simples mortal como outra qualquer, mesmo sendo
a maior. Há algo mais. Creio que partindo do humano, podemos chegar ao
conceito. O humano de Maria está direcionado ao seu Filho Jesus. Maria aprendeu
a ser o que Jesus era e com Ele está a Ele na redenção do mundo. 

 

Aprendizado
lento e constante

 

O primeiro aprendizado nesta escola de Jesus
para Maria foi a capacidade de ser humana. Tirar o aspecto humano de Maria é
transformá-la em uma idéia, uma teoria espiritual. Mesmo estando glorificada
ela permanece a Maria de Nazaré, como Jesus. Isso nos ensina a viver
intensamente a vida humana como primeiro caminho de redenção. O segundo momento
da escola de Maria, que é nossa escola, é o aspecto de assimilação
transformante de sua vida na vida Filho. Houve entre Maria e Jesus uma contínua
troca de ensinamentos. Jesus aprendeu a ser humano e Maria aprendeu dEle a
construir em si a vida de Deus. Ela estava unida a Jesus pelos laços da
maternidade e pelos laços da fé. Por estes laços pode adquirir os sentimentos
de Cristo e com eles, continuar a missão de Cristo. Os grandes privilégios de
Maria não lhe tiram a humanidade, mas levam-na a colocá-los inteiramente a
serviço da humanidade. Por aí podemos chamá-la de Imaculada, Mãe, Virgem e
Assunta ao Céu. Unindo-nos a Maria pelo afeto e pela fé em seu Filho Jesus,
justificamos nossa oração a ela, nosso pedido de graça, nosso agradecimento.

 

Escola
de redenção

 

Maria, unida ao Filho torna-se co-redentora,
participa da redenção que Ele nos traz. Nós também, nos tornamos com ela
participantes da redenção de Cristo, sendo redimidos e anunciando a redenção.
Estamos unidos a ela também através de nossa unidade no Corpo de Cristo. Nossa
união de afeto nos introduz nessa mesma vida e por isso recebemos dela os
imensos favores. É bom que sejamos devotos de Maria e tenhamos sempre em nossa
vida sua presença. Viveremos a vida de Cristo e participaremos de seu mistério
de redenção. Nossa união a Maria se faz pelos simples gestos de piedade, pelas
orações que aprendemos desde pequenos, pela flor que levamos ao seu altar, pela
medalhinha que trazemos com carinho, pela novena, pela súplica de uma graça,
pela leitura de um livro sobre ela, por um estudo apaixonado de seus dons e
privilégios. Sem Maria jamais entendemos Jesus. 

 Pe.
Luiz Carlos de Oliveira, C.Ss.R.

 

 

O perdão

O perdão

 

Perdoar passa pelo
coração e depois pela inteligência

 

O perdão começa sempre em nosso coração. Passa
depois pela nossa inteligência. É uma decisão! Depois de concebido no coração e
gestado no pensamento, ele [perdão] ganha vida por uma decisão irreversível e
explícita. Enquanto não perdoamos, perpetuamos a falsa ideia de que a vingança
e o ódio podem ser remédios para curar nossa dor, a vingança parece ser mais
justa do que o perdão. Mas é só na hora. A longo prazo suas consequências serão
terríveis e cruéis.


O perdão afeta o presente e o futuro, mas não pode mexer no passado. Não
adianta nada querer sonhar com o passado melhor ou diferente. O passado foi o
que foi. Não há o que fazer para mudá-lo. Podemos e devemos assimilá-lo e
aprender o que ele tem a nos ensinar. Mais do que isso é impossível.

A esperança por um passado melhor é uma ilusão do encardido [demônio]. Ele é o
grande especialista em passado.
 Jesus, ao contrário, nunca fez nenhuma pergunta sobre o
passado de nenhuma pessoa.
 
Ele nunca fez uma regressão ao passado com ninguém. Nem mesmo
com aqueles que tinham sérios problemas afetivos e até sexuais. Parece estranho
que o Senhor não tenha realizado uma sessão de cura interior das etapas
cronológicas com Maria Madalena, Maria de Betânia, a Samaritana, Zaqueu, Pedro,
Tiago e João, Judas e tantos outros que, por suas atitudes, demonstraram
carregar sérios problemas oriundos da infância e mesmo na gestação.


Cristo não retomava o passado porque sabia que a única coisa que podemos fazer
em relação ao passado é enxergá-lo de um jeito novo e aprender com o que ele
tem a nos ensinar. Mas isso se faz vivendo intensamente o presente e projetando
o futuro. Jesus foi o grande mestre do perdão. Ele nos mostra que o perdão não
acontece de uma hora para outra e nem pode ser uma tentativa de abafar ou
simplesmente ignorar essa dor. O perdão é um processo profundo, repetido tantas
vezes quantas forem necessárias no nosso íntimo. A pressa é inimiga do perdão!


O perdão nos ensina a nos relacionar, de modo maduro, com o passado. Não é um
puro esquecimento dos fatos, nem sua condenação. Não é a colocação de panos
quentes e muito menos a tentativa de amenizar os acontecimentos. Perdoar é ser
realista o suficiente para começar a ver o passado com os olhos do presente,
voltados para o futuro.


Quem
não perdoa não consegue se libertar das garras, interiores e exteriores,
daquele que o machucou
. Mesmo que seja
necessário se afastar, temporária ou definitivamente, dessa pessoa, só podemos
fazê-lo num clima de perdão.

Antes de colocar para fora do nosso coração
alguém que nos machucou é preciso perdoá-lo. Sem perdão, essa pessoa vai
permanecer ocupando um espaço precioso de nossa vida e continuará tendo um
poder terrível sobre nós.

 Do livro “Gotas
de cura interior”.

Padre
Leo, SCJ

 

A alegre fragilidade do ser humano!

“A alegre fragilidade do ser humano!’

 

Apenas terminados os festejos do Momo de Carnaval, a comunidadereúne-se novamente em respeitoso e temeroso silêncio para receber as cinzas.São duas festas diferentes, mas que na realidade mostram a beleza do ser humano.Quando se perguntar quem somos nós, podemos responder que somos a alegria nafragilidade esperançosa. Parece estranho que a alegria se misture tão bem com afragilidade. A alegria não é frágil, nem a fragilidade é triste edesesperadora. O ser humano, (o homem e a  mulher) na sua constituição tem afragilidade como projeto, pois não é um monumento de bronze perfeitamentetalhado. Ele é um contínuo construir-se, ajustar-se, modelar-se. Não somosseres acabados, imutáveis.

 

A celebração das cinzas da quarta-feira, marcando o início dotempo santo da Quaresma, é a bela indicação de nossa origem: “Lembra-te homemque és pó e em pó te tornarás”. É uma ameaça dura que nos coloca diante dosolhos nossa realidade frágil e efêmera. Lembra-nos que um dia éramos pó, deacordo com a simpática narração da criação do homem. Esta lembrançacomunica-nos o respeito a Deus, a necessidade do arrependimento, pois no finalnós iremos prestar contas. Contudo, justamente por ser cinza é que podemos nosalegrar. É nossa condição: frágil. Somos um ser aberto e não um bloco de pedraimutável. Neste barro mole e frágil está nossa maior riqueza. Não somosdefinitivos. Crescemos, nos moldamos, nos adaptamos e nos construímosincessantemente. Parece um baile de Carnaval onde o corpo se move e se alegra.A massa do corpo vibrante vive e faz felicidade a partir daquilo que é frágil eé pó. 

 

Somos o alegre caminhar e o alegre dançar porque nestafragilidade, se expressa nosso ser e nosso modo de ser: homem e mulheres sempreem construção, sempre em movimento interior de vida e alegria. Mesmo na dordesta fragilidade, o ser humano é capaz de edificar a desde da alegria e dapaz.

 

Diante disso, podemos concluir que a vida humana é projeto que serealiza e se reconstrói. Não há nada que seja totalmente definitivo, como nãohá nada que seja totalmente triste. Triste é quando esta fragilidade e levezasão destruídas por aqueles que querem ser donos do ser humano e domina-lo. Umaflor é bela se respeitado seu tempo de se abrir, quando não é violentada sualiberdade de ter sol e vento, quando não é cortada e jogada fora, como quandonão se lhe reconhece o direito a mover-se, crescer, construir-se e participar.  

No altar da vida, todas a alegrias e toda compunção das cinzas sãoduas faces do mesmo ofertório. O que faz nossa grandeza diante de Deus é estarnas mãos dele, deixar-se moldar, ou melhor, construir-se diante dele, olhando oprojeto que ele tem para todo ser humano: ser feliz, mesmo sendo frágil. Enesta fragilidade, construir-se como um desfile alegre por pertencer a Deus enele viver e mover-se.

 

Pe. Luiz Carlos de Oliveira, C.Ss.R.