Sim, Nossa Senhora foi salva pela graça
NossaSenhora foi salva por Cristo, ao contrário do que os protestantes alardeiam sera fé católica. Mas a maneira como a Santíssima Virgem foi salva é que pode serchamada especial. A nós, que fomos concebidos com o pecado original, JesusCristo nos salvou removendo-nos do pecado. A Santíssima Virgem Maria, por suavez, foi salva pelo mesmo Cristo, pelos mesmos méritos conquistados na Cruz,mas antes de ela cair no pecado. Nós fomos levantados após a queda, ao passo emque Nossa Senhora foi impedida de cair.
Longe de diminuir a graça de Deus, a Imaculada Conceição daMãe de Deus é um hino de louvor à misericórdia e ao poder do Senhor.
“ASantíssima Virgem Maria foi, no primeiro instante da sua concepção, por umúnico dom da graça e privilégio do Deus Altíssimo, em vistas dos méritos deJesus Cristo, o Redentor do gênero humano, preservada isenta de toda a manchado pecado original.” (Bula Ineffabilis Deus, in Denz., 1641)
O Intróito Gaudens Gadebo, do próprio da Missa da Solenidadeda Imaculada Conceição, bem revela, pela boca do profeta Isaías (cf. 61,10), oestado de espírito da Santíssima Virgem ao ver-se preservada de todo pecado,desde sua concepção: “Com grande alegria rejubilo-me no Senhor, e minha almaexultará no meu Deus, pois me revestiu de justiça e salvação, como a noivaornada de suas jóias.” (Missal Romano; Solenidade da Imaculada Conceição deNossa Senhora; Antífona da Entrada)
AVirgem Maria alegra-se em Deus, por considerar o grande prodígio pelo Criadoroperado ao preservá-la do pecado, ao salvá-la por antecipação já no exatoinstante em que foi concebida por São Joaquim e Sant´Ana, em atenção à graçaconquistada por Cristo na Cruz, mediante Seu sacrifício expiatório. Sim, Jesusé o Salvador de Nossa Senhora, pois foram Seus méritos, os mesmos que nossalvam estando nós vivendo no pecado, que a salvaram, impedindo-a de ser tocadapela mancha original. Para Deus não há limitação temporal que O impeça de agirno passado pela previsão de fatos futuros: logo a morte de Cristo, ocorrida historicamenteanos mais tarde, foi ocasião de salvação não só para os que viveram depoisdela, para os pósteros de Jesus, senão também para Sua Santíssima Mãe, redimidano tempo pretérito em relação àquela obra sacrifical no Calvário.
Ogrande feito de Deus em Nossa Senhora é atestado pela palavra de Isaías,recolhida pelo Missal, que atribui profeticamente à Virgem a confissão de quefoi revestida com justiça e com salvação. A justiça, estado perdido por nossosprimeiros pais, Adão e Eva, quando, pecando, desobedecendo a Deus, foiministrada à Mãe do Salvador. Nossa Senhora é justa pela graça de Cristo a elaimputada já na concepção – e esse é o sentido da solenidade que estamos acomemorar: festejar o dom de Maria ser preservada do pecado original. Antes quealguém refute essa preservação, conhecida teologicamente como ImaculadaConceição, alegando que ela coloca Nossa Senhora fora do redil dos salvos porCristo, eis que, por tal privilégio, não teve ela pecado, logo não necessitandoda salvação, defendemos: a Igreja nunca deixou de acreditar nessa proposição,ainda determinados contornos de sua explicitação não tenha sido por todos osteólogos percebidos e que só tenha sido declarada dogma pela fórmula solene doPapa Beato Pio IX, em 1854, o que demonstra a confirmação do adágio de SãoVicente de Lérins, segundo o qual deve ser crido como verdade católica tudoaquilo que sempre foi crido, por todos e em todo lugar. Mais: a preservação deMaria, constante em que ela não tivesse pecados, nem mesmo o original, aquelerecebido como herança adâmica, não a isenta da salvação merecida por Cristopara nós. É justamente pela graça de Cristo que Nossa Senhora recebe talprivilégio; a Santíssima Virgem foi salva por Jesus, seu filho; somente queessa redenção, em Maria, deu-se de maneira diferente de como operou-se em nós:fomos salvos após receber o pecado original, e Maria foi salva antes de sercontaminada com ele; fomos salvos por sermos tirados do pecado, e Maria foisalva antes de nele cair, por preservação. O texto do Evangelho da Missa dehoje é taxativo ao mostrar como o arcanjo São Gabriel saúda a Santíssima Virgemcomo a “cheia de graça” (Lc 1,28), a gratia plena da tradução latina de SãoJerônimo, ou a kecharitômene do original grego (e essa plenitude da graça indicaausência total de mancha).
Asalvação de Maria, continua o Intróito, é como as jóias de uma noiva. ASantíssima Virgem, noiva do Espírito Santo, reveste-se de suas jóias – ajustiça e a salvação, segundo o texto da antífona citada –, e apresenta-se aDeus e a nós como a perfeita realização da promessa do Criador à serpente:poria o Senhor inimizade entre Satanás e Nossa Senhora, entre os filhos dodiabo e o filho de Maria, Nosso Senhor, Rei e Salvador, Jesus Cristo (cf. Gn3,15)