O que a missão de Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, pode comunicar hoje à missão das e dos Catequistas, e para nosso itinerário na fé e vida? Maria é Mãe e catequista no caminho do discipulado de Jesus. Ela participa da pedagogia divina no mistério da encarnação de Jesus (NDC, n. 159). Por sua fé e fidelidade, por sua participação ativa como mulher, leiga e pobre. Deus “encontrou graça em Maria” (Lc, 1, 30)! Ele Se encanta com o seu “eu feminino” para mostrar a importância da mulher, sobretudo diante de uma sociedade patriarcal.
Ela é memória histórica na História da Salvação! A Comunidade Lucana afirma que Maria “guardava todas as coisas no coração” (Lc 2,51). Enquanto catequista guardar todas as coisas no coração, é também participar da graça de ser testemunha do Projeto de Deus.
O que Maria guardou no coração foram alegrias, tristezas, sonhos, expectativas. Certamente, nem tudo se realizou como ela esperava, aos poucos ela foi percebendo que em alguns momentos era mais preciso guardar do que falar. E, no momento da graça, no Kairós vivenciando por Maria ao receber a energia do Alto, a força da Divina Ruah em Pentecostes, ela também saiu anunciando todas as maravilhas que o Senhor havia feito na sua vida e na vida do seu povo.
Na Catequese, a Memória é uma chave importante para a transmissão da Revelação. As mulheres e homens que se colocam à serviço do Ministério da Catequese são chamadas/os à serem verdadeiras testemunhas do amor primeiro de Deus na sua vida para anunciar a grande Alegria, a Boa notícia de Jesus Cristo à todas e todos.
Maria é modelo do povo de Deus, ela é a Virgem da Escuta. Nela, em seu corpo se encarna o Verbo feito carne. A Palavra anunciada por Jesus, ele mesmo o Filho de Deus, é o fundamento de toda a evangelização. Ele nos revela o Pai. Revela a unidade do Pai e do Filho e convoca toda a humanidade a se unir ao Seu Plano de Amor.
Afirma o Papa Francisco que “toda evangelização está fundada na Palavra de Deus” (cf EG, n. 174), e Maria soube escutar, guardar no coração e colocá-la em prática. No entanto, “a Palavra cai nos diversos terrenos e superam nossos esquemas” (cf. EG, n.22). Essa inquietante afirmação do Papa Francisco remete quão livre Deus age, e não são esquemas humanos que irão aprisionar a Palavra em projetos de morte, de mentira, etc.
Quando olhamos Maria, tipo e modelo da Igreja (LG, n. 63) podemos nos perguntar qual é o caminho da Igreja? O Caminho se dará no itinerário feito por Maria a partir da resposta: “Faça-se mim segundo a Tua Palavra” (Lc 1,38), ser e estar disponível de maneira incansável.
O Papa Francisco aponta para a Igreja um estilo que é próprio de Maria e nos convida a assumir esse mesmo estilo no cotidiano da nossa ação eclesial e social. Ele afirma que “Há um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja. Porque sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto. N’Ela, vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentir importantes. Fixando-A, descobrimos que aquela que louvava a Deus porque “derrubou os poderosos de seus tronos” e “aos ricos despediu de mãos vazias” (Lc 1, 52-53) é mesma que assegura o aconchego de um lar à nossa busca de justiça. (EG, n. 288)
A Mãe de Jesus segue o itinerário de Jesus, por isso ela é modelo do Povo de Deus – do povo a caminho, em travessia. Também no Calvário, ela que chorou aos pés da Cruz pela morte do seu filho. Semelhante a muitas mulheres que, infelizmente, nos tempos atuais sofrem, choram, e sozinhas são por Deus consoladas.
Maria faz o caminho de volta para e com a comunidade, ela e as outras mulheres (cf. At 1,14). Como catequistas ficam as perguntas para reflexão: A partir do sofrimento, da morte e das desilusões, qual a motivação temos para o caminho de volta para a comunidade? Como catequistas ficam as perguntas para reflexão: A minha vida, meu testemunho de cristã, de cristão, tem sido agradável a Jesus? Renovo meu Sim ao chamado de Deus, a cada dia para ser catequista? Como está minha participação na comunidade?
Sobretudo neste tempo de pandemia, com tantas situações de doenças, que provocam sofrimento e mortes precisamos ser pessoas profetas da esperança. Deixar que Cristo nos conduza a Maria. Ele não quer que caminhemos sem uma Mãe. Meditando os mistérios da vida de Jesus, todo o povo de Deus lê os mistérios do Evangelho. “Não é do agrado do Senhor que falte à sua Igreja o ícone feminino” (EG, n. 287).
O Novo Diretório para a Catequese (2020) destaca a importância da grande contribuição das mulheres para a Catequese, ainda que esta missão seja de toda a Igreja. O Documento afirma que “as mulheres desempenham um papel precioso nas famílias e nas comunidades cristãs, oferecendo serviços como esposas, mães, catequistas, trabalhadoras e profissionais”. Lembra anda que “Jesus com suas palavras e gestos, nos ensinou a reconhecer o valor das mulheres. De fato, Ele as quis como discípulas (Mc 15,40-41) e confiou a Maria Madalena e as outras mulheres a alegria de levar aos Apóstolos o anúncio de sua Ressurreição (Mt 28,9-10; Mc 16,9-10; Lc 24,8-9; Jo 20,18) (NDC, n. 127).
Catequistas da esperança e da alegria, encontram em Maria a alegria no louvor. “São chamadas a ser e saber fazer com”, e assim fazer de cada encontro e de cada aprendizado, um caminho de maturidade na fé. A realidade de pobreza, do sofrimento, o cuidado com a casa comum nos impele a lançar o olhar sobre o mundo, a exemplo de Maria que soube “transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Ela é serva humilde do Pai, que transborda de alegria no louvor….” (EG, n. 286).
“Com Maria avancemos confiantes: Vós, que permanecestes firme diante da Cruz com uma fé inabalável, e recebestes a jubilosa consolação da ressurreição, reunistes os discípulos à espera do Espírito para que nascesse a Igreja evangelizadora. Alcançai-nos agora um novo ardor de ressuscitados para levar a todos o Evangelho da vida que vence a morte. Dai-nos a santa ousadia de buscar novos caminhos para que chegue a todos o dom da beleza que não se apaga” (EG, n. 288).
Celia Soares de Sousa
Cristã leiga e teóloga