A devoção ao Imaculado Coração de Maria

No sábado seguinte à solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que é celebrada na segunda sexta-feira depois da solenidade de Corpus Christi, comemoramos, anualmente, a memória ao Imaculado Coração da Santíssima Virgem Maria. A devoção ao Imaculado Coração de Maria remonta aos inícios da Igreja, tendo em vista que as suas raízes são bíblicas e fazem parte da tradição da Igreja.

Nas Sagradas Escrituras, encontramos duas referências ao Coração Imaculado. No Evangelho segundo São Lucas, considerado o “pintor” da Virgem Maria, a primeira menção do Coração de Maria se dá depois do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo — quando Ela ouviu as palavras dos pastores a respeito do Menino divino: “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2, 19).

E a segunda se dá depois de Nossa Senhora e São José encontrarem o Menino Jesus no meio dos doutores no Templo de Jerusalém  — quando eles o viram, ficaram admirados. E sua mãe disse-lhe: “Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição”. Respondeu-lhes ele: “Por que me procurá­veis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?”. Eles, porém, não compreenderam o que ele lhes dissera. Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração (Lc 2, 48-51).

A festa do Imaculado Coração de Maria

A semente do Evangelho, plantada pelos apóstolos e discípulos de Jesus Cristo, germinou na doutrina dos Santos Padres, nos primeiros séculos da Igreja. Desenvolveu-se com os teólogos e místicos na Idade Média. Nos séculos seguintes, surgiram outros grandes devotos do Imaculado Coração de Maria. Como São Bernardo, Santa Gertrudes, Santa Brígida, São Bernardino de Sena e São João Eudes. Este último é considerado o maior apóstolo da devoção ao Imaculado Coração.

No ano de 1648, o Padre João Eudes obteve a aprovação da celebração da festa do Imaculado Coração de Maria, na diocese de Autun, França. A partir disso, a devoção tornou-se cada vez mais conhecida e a celebração da festa foi aprovada em várias dioceses.

No início do século XIX, a Santa Sé mostrou-se oficialmente favorável ao culto ao Imaculado Coração. Em 1805, o Papa Pio VII autorizou a celebração da festa para todas as dioceses e congregações religiosas. Em 1855, o Papa Pio IX aprovou a Santa Missa e o Ofício próprios do Imaculado Coração de Maria. No século XX, 8 de dezembro de 1942, na solenidade da Imaculada Conceição de Maria, o Papa Pio XII consagrou a Igreja e todo o gênero humano ao Imaculado Coração. Três anos depois, estendeu a festa do Imaculado Coração de Maria para toda a Igreja Católica.

A reparação ao Imaculado Coração da Virgem Maria

Nossa Senhora começou a revelar a devoção reparadora ao seu Imaculado Coração, a partir da sua segunda aparição em Fátima, Portugal, 13 de junho de 1917, aos três pastorinhos: Lúcia, Francisco e Jacinta. A Santíssima Virgem disse à Lúcia, a mais velha das três crianças: “Ele [Jesus] quer estabelecer no mundo a devoção do meu Imaculado Coração”1. Logo depois de ouvir essas palavras, Maria apareceu aos pastorinhos com um coração na mão, todo cercado de espinhos. As três crianças compreenderam que aquele era o seu Imaculado Coração. Os espinhos e ofensas cometidas contra Ela precisavam de reparação.

Créditos: Arquivo CN

Na aparição seguinte, 13 de julho, a Santíssima Virgem concedeu a Lúcia, Francisco e Jacinta uma visão do Inferno. Na qual os demônios e as almas dos condenados gritavam e gemiam de dor e desespero. Após conceder-lhes esta terrível e assustadora visão, a virgem Maria disse aos pastorinhos: “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração”2.

Nas suas aparições em Fátima, Nossa Senhora não revelou como deveríamos reparar as ofensas ao seu Imaculado Coração. Mas, prometeu que voltaria para pedir esta devoção reparadora. No entanto, as três crianças foram ensinadas a oferecer orações. Especialmente o Santo Rosário (Terço), penitências e sacrifícios pela conversão dos pecadores.

A revelação a devoção reparadora

Somente depois de oito anos, 10 de Dezembro de 1925, em Pontevedra, Espanha, a Virgem Santíssima apareceu a Lúcia. Então, postulante na casa da Congregação de Santa Doroteia, hoje conhecida como Santuário das Aparições e local de peregrinação, revelou a devoção reparadora dos Cinco Primeiros Sábados do mês. Todavia, Lúcia hesitava em tornar pública a devoção reparadora. Após dois anos, em dezembro de 1927, por ordem de seu confessor, Lúcia deu a conhecer as palavras da Virgem Maria a respeito da devoção reparadora ao seu Imaculado Coração:

“Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar, e dize que todos aqueles que durante cinco meses, no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço, e Me fizerem quinze minutos de companhia, meditando nos quinze mistérios do Rosário, com o fim de me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas”3.

A devoção dos sábados em honra a Maria

A consagração dos sábados a Santíssima Virgem faz parte da tradição da Igreja. O fato de Maria pedir a devoção reparadora dos primeiros sábados foi uma providencial confirmação dos Céus da antiga piedade mariana. O sábado como dia especialmente dedicado a Nossa Senhora é uma tradição que remonta, muito provavelmente, aos primórdios da Igreja. “A presença da Missa de Nossa Senhora nos Sábados, no missal romano de São Pio V, de 1570, mostra a antiguidade desta prática que consiste em honrar especialmente a Santa Mãe de Deus nesse dia da semana”4.

Apoiados nesta bela e piedosíssima tradição, os membros das confrarias do Rosário consagravam, todos os anos, quinze sábados consecutivos em honra a Virgem Maria. Durante esses sábados, “eles se aproximavam dos sacramentos e cumpriam exercícios de piedade particulares em honra dos quinze mistérios do Santo Rosário. Em 1889, o Papa Leão XIII concedeu, a todos os fiéis, uma indulgência plenária a ser ganha durante um desses quinze sábados”5.

A consagração dos Sábados e a devoção

O grande Papa São Pio X aprovou e encorajou a devoção dos Primeiros Sábados. Em 10 de Julho de 1905, o Papa Pio X indulgenciou a devoção mariana. Em 13 de Junho de 1912, o Pontífice concedeu “indulgência plenária, aplicável às almas dos defuntos, no Primeiro Sábado de cada mês, por todos aqueles que, nesse dia, se confessarem, comungarem, cumprirem exercícios particulares de devoção em honra da bem-aventurada Virgem Maria, em espírito de reparação”6.

Por desígnio da divina Providência, cinco anos depois, no dia 13 de Junho de 1917, Lúcia, Francisco e Jacinta testemunharam a primeira grande manifestação do Imaculado Coração de Maria, vendo-o “cercado de espinhos que pareciam enterrados nele. (…) Depois desta visão, os Pastorinhos intuíram:] Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria ultrajado pelos pecados da humanidade que queria reparação”7.

Os termos usados pelo Papa São Pio X são quase os mesmos do pedido de Nossa Senhora à Irmã Lúcia. Principalmente, quando ressaltam “a extrema importância da intenção reparadora, única capaz de afastar e apaziguar a cólera de Deus”8.

Depois de conhecer um pouco mais sobre a consagração dos Sábados e a devoção ao Imaculado Coração, percebemos que, nas suas aparições em Fátima e Pontevedra, a Virgem Maria não é inovadora, e sim deu a nós uma confirmação do Céu a respeito da devoção mariana. Além disso, Nossa Senhora deu um novo impulso à devoção dos Primeiros Sábados. Unindo-a com a devoção ao seu Coração Imaculado.

Como praticar a devoção dos Cinco Primeiros Sábados?

Foi a própria Virgem Maria quem nos ensinou a praticar a devoção reparadora das ofensas ao seu Imaculado Coração. Para praticar perfeitamente esta devoção — durante cinco Primeiros Sábados de cinco meses seguidos, na intenção geral de reparar os nossos próprios pecados e os de toda a humanidade cometidos contra o Imaculado Coração de Maria —, devemos realizar quatro atos de piedade:
1 – Confissão: devemos confessar-nos preferencialmente no Primeiro Sábado do mês. No entanto, caso seja impossível, ou muito difícil, podemos confessar até com oito dias ou mais antecedência. No entanto, deve-se estar em estado de graça no Primeiro Sábado do mês, para poder comungar nesse dia.

No ato da confissão, é indispensável a intenção de reparar as ofensas contra o Imaculado Coração de Maria. Esta intenção reparadora, não precisa se dita ao confessor, mas apenas colocada, em oração, antes da confissão. O Senhor disse a Irmã Lúcia que, se esquecermos a intenção reparadora, podemos colocar esta intenção na próxima confissão. Todavia, devemos aproveitar a primeira ocasião que tivermos para nos confessar;

2 – Terço Mariano: rezar o Terço, meditando qualquer um dos mistérios (gozosos, dolorosos, luminosos ou gloriosos), faz parte da devoção dos cinco Primeiros Sábados. Também deve ser rezado na intenção da reparação ao Imaculado Coração de Maria;

3 – Meditação dos mistérios do Rosário: Nossa Senhora pediu que fizéssemos companhia a ela durante pelo menos 15 minutos, meditando sobre os 15 mistérios do Rosário, igualmente na intenção da reparação ao seu Imaculado Coração. Esta meditação não precisa ser de todos os 15 (ou 20, no caso de meditar os mistérios luminosos,) mistérios do Rosário. Podemos meditar sobre apenas um, dois, três ou mais mistérios, conforme a nossa escolha pessoal;

A comunhão é essencial

4 – Comunhão: a comunhão reparadora é um ato essencial da devoção ao Imaculado Coração de Maria. Recordemos que a comunhão milagrosa, dada a Lúcia, Francisco e Jacinta pelo Anjo da Guarda de Portugal, no outono de 1916, teve um caráter eminentemente reparador. Este caráter reparador evidencia-se na oração ensinada pelo Anjo da Paz, que repetiu seis vezes, três vezes antes e três vezes depois da comunhão dos pastorinhos:

“Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos adoro profundamente e vos ofereço o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido; e pelos méritos infinitos de seu Sacratíssimo Coração e do Imaculado Coração de Maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores.”

Na devoção dos cinco Primeiros Sábados, a intenção reparadora é importantíssima em todos os quatro atos de piedade. As ofensas contra o Imaculado Coração de Maria também ofendem gravemente o Sacratíssimo Coração de Jesus. Caso não seja possível fazê-la no sábado, pode também ser feita no domingo seguinte ao primeiro sábado do mês. Mas desde que seja por motivos justos e com a autorização de um Sacerdote.

O poder e a eficácia da devoção ao Imaculado Coração

A devoção dos Primeiros Sábados em reparação das ofensas cometidas contra o Imaculado Coração de Maria nos foi revelada para salvação dos pecadores, de muitas almas do Inferno. Muitas almas se perdem em nosso tempo. Multiplicam-se os ataques contra a dignidade, os privilégios e as honras devidas a Nossa Senhora. Além disso, há uma diminuição considerável do culto mariano em quase toda a Igreja.

A intenção reparadora nos dias de hoje

Em nossos dias, a impiedade das pessoas com a Virgem Maria é pior do que em qualquer período histórico da Igreja. Sendo assim, a intenção reparadora na prática da devoção dos Cinco Primeiros Sábados é muito mais necessária. Conscientes disso, reparemos as ofensas cometidas contra o Imaculado Coração de Maria. Tão ultrajado pela ingratidão dos homens, através da devoção que ela mesma nos ensinou.

Em sua carta a Dom Manuel Maria Ferreira da Silva, Arcebispo titular de Gurza, escrita no dia 27 de maio de 1943, a Irmã Lúcia nos ajuda a compreender melhor o poder e a eficácia sobrenaturais da devoção ao Imaculado Coração de Maria: “Os Santíssimos Corações de Jesus e Maria amam e desejam este culto [para com o Coração de Maria] porque dele se servem para atrair todas as almas a eles e isto é tudo o que desejam: salvar as almas, muitas almas, todas as almas”.

Imaculado Coração de Maria, rogai por nós!

“Nosso Senhor me dizia, há alguns dias: ‘Desejo ardentemente a propagação do culto e da devoção ao Coração de Maria, porque este Coração é o ímã que atrai as almas para mim, a fornalha que irradia na terra os raios de minha luz e de meu amor, fonte inesgotável de onde brota na terra a água viva de minha misericórdia’”9.

Conscientes da eficácia sobrenatural da reparação dos cinco Primeiros Sábados, peçamos a Virgem Maria, com insistência e perseverança, as boas disposições de nossas almas, para bem praticarmos essa devoção.

Referências e notas:
1 SANTUÁRIO DE FÁTIMA. A segunda aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria (13.06.1917), p. 4.
2 Idem. A terceira Aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria em 13 de julho de 1917, p. 6.
3 CAPELA. A devoção reparadora dos cinco primeiros sábados do mês.
4 Idem, ibidem.
5 Idem, ibidem.
6 Idem, ibidem.
7 Idem, ibidem.
8 Idem, ibidem.
9 Idem, ibidem.

A ligação de Nossa Senhora Aparecida a Imaculada Conceição

A ligação de Nossa Senhora Aparecida com a devoção portuguesa a Imaculada Conceição

No dia 12 de outubro, celebramos a solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil. Esta devoção a Nossa Senhora da Conceição tem sua origem entre o povo português e está ligada a grandes e decisivos acontecimentos para a Independência de Portugal e a formação de sua identidade nacional.

Nos primórdios da história de Portugal, foi celebrada uma Missa pontifícia em honra e ação de graças a Imaculada Conceição, após Lisboa ter sido retomada dos muçulmanos, em 1147, pelo primeiro Rei de Portugal, Dom Afonso Henriques.

Depois da vitória portuguesa na Batalha de Aljubarrota (1385) contra os castelhanos, Dom Nuno Álvares Pereira (São Nuno de Santa Maria, canonizado pelo Papa Bento XVI em 26 de abril de 2009) mandou construir a Igreja de Nossa Senhora do Castelo, em Vila Viçosa, e tomou as providências para que aquele templo católico fosse consagrado a Nossa Senhora da Conceição . Além disso, São Nuno Álvares recomendou, na Inglaterra, uma imagem de Nossa Senhora da Conceição para ser venerada nessa igreja.

Nossa Senhora da Conceição Aparecida

Crédito: Sidney de Almeida

A proclamação de Nossa Senhora da Conceição como Rainha e Padroeira de Portugal

Depois da restauração da Independência de Portugal (1640), Dom João IV, então Rei de Portugal, da Casa de Bragança e descendente de Dom Nuno Álvares Pereira, proclamou solenemente Nossa Senhora da Conceição como Rainha e Padroeira de Portugal e de todos os seus territórios ultramarinos, por provisão régia de 25 de Março de 1646. Nesta provisão, que posteriormente foi confirmada pelo Papa Clemente X na bula Eximia Dilectissimi, de 8 de maio de 1671, declarou que: “Estando ora juntos em Cortes com os três Estados do Reino (…) e nelas com parecer de todos, assentamos de tomar por padroeira de Nossos Reinos e Senhorios a Santíssima Virgem Nossa Senhora da Conceição”1.

Neste documento, o Rei prometeu confessar e defender sempre, até dar a vida se necessário, que a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi concebida sem pecado original. Após esta proclamação, Dom João IV corou a imagem de Nossa Senhora da Conceição em Vila Viçosa. A partir deste ato simbólico, em sinal de reconhecimento de que Nossa Senhora é a verdadeira Rainha e Padroeira de Portugal, os reis nunca mais colocaram a coroa real na cabeça, e a coroa ficou apenas colocada sobre uma almofada, ao lado direito do rei.

A Imaculada Conceição

A partir de 1646, por insistência de Dom João IV e dos franciscanos, o corpo docente da Universidade de Coimbra passou a jurar defensor público e especificamente que a Virgem Maria foi concebida sem a mancha do pecado original, ou seja, a sua Imaculada Conceição. No entanto, com a proclamação do dogma da Imaculada Conceição de Maria, em 8 de dezembro de 1854 pelo papa Pio IX, através da Bula Ineffabillis Deus, julgou-se necessariamente continuar a prestar este juramento.

Em 1654, Dom João IV investiu a todo o Império Português uma cópia da inscrição comemorativa do juramento solene prestada em 25 de março de 1646, e planejou que a inscrição fosse gravada em pedra e colocada em locais públicos das cidades e vilas portuguesas. Em 1717, o Rei Dom João investiu uma carta circular à Universidade de Coimbra e a todos os prelados do Reino de Portugal, na qual recomendou que fosse celebrada, anualmente, a festa da Imaculada Conceição nas suas joias, registrando o juramento de Dom João IV, seu antecessor.

Depois da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, desenvolveu-se em Portugal um movimento que apoiou a construção de um monumento nacional em comemoração da proclamação, feita em 1854 por Pio IX. Em 1869, foi erigido o primeiro monumento no Sameiro, em Braga. No mesmo local, foi construído, posteriormente, um santuário dedicado a Imaculada Conceição de Maria, cuja imagem foi solenemente coroada em 1904.

O vínculo espiritual do Brasil com Portugal

No dia 25 de março de 1946, comemorou-se o tricentenário da proclamação da Imaculada Conceição como Padroeira de Portugal, com a solene consagração de Portugal a Virgem Maria, Mãe de Deus.

A devoção portuguesa a Nossa Senhora da Conceição foi reservada e chegou ao Brasil, que, na época, fazia parte do Reino de Portugal. Em 1717, o encontro da imagem da Imaculada Conceição, no rio Paraíba do Sul, fez com que a devoção a Nossa Senhora da Conceição, carinhosamente chamada de “Aparecida”, a partir da fé dos pescadores João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia e seus famílias, aos poucos passasse a fazer parte também de nossa devoção e espiritualidade.

Tendo em vista o vínculo espiritual do Brasil com Portugal, podemos dizer que o Brasil nasceu sob o manto sagrado de Nossa Senhora da Conceição. Diante dessa verdade, por que não confiamos nela? Recorremos a nossa Mãe Imaculada nestes tempos difíceis em que Satanás parece querer imperar sobre o Brasil através dos maus costumes, da falta de devoção, da perda da fé, do relativismo e do indiferentismo religioso, dos pecados, da mentira, das drogas, do sexo desregrado, das leis injustas, das decisões judiciais injustas, da corrupção, da violência. Quanta miséria o nosso país tem passado por nossa culpa, por nossa falta de conversão, por falta de uma verdadeira devoção a Jesus Cristo e a Virgem Maria!

O Brasil nasceu do manto Sagrado de Nossa Senhora da Conceição

Voltemos às origens da nossa verdadeira identidade. Deus sonhou com o Brasil quando pediu a Dom Afonso Henriques que constituísse um Reino para levar o seu Nome – o nome de Jesus – aos povos estrangeiros, a nós brasileiros. Deus surgiu no Brasil antes mesmo do seu descobrimento, quando produziu a devoção dos portugueses a Nossa Senhora da Conceição. Os reis de Portugal, os professores de Coimbra, os portugueses em geral juraram derramar o seu sangue para defender o dogma da Imaculada Conceição, que ainda não havia sido proclamado.

Em 1822, às vésperas da Independência do Brasil, o príncipe herdeiro do trono, Dom Pedro I, prometeu consagrar o nosso país a Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

O Brasil nasceu historicamente de Portugal e, quando se tornou independente, nasceu igualmente sob o manto sagrado de Nossa Senhora da Conceição. Depois da Proclamação da República, Dona Isabel ou Princesa Isabel, que seria nossa futura imperatriz, apresentou uma coroa preciosa a Nossa Senhora Aparecida, que foi colocada em sua cabeça. Através desse ato simbólico, Nossa Senhora da Conceição Aparecida passou a ser verdadeiramente a Rainha do Brasil.

Consagre-se a Nossa Senhora!

Nós temos uma vocação sublime, de levar o Nome de Jesus sob o manto protetor de Maria, que precisamos viver e honrar. Nós, brasileiros, devemos viver e propagar a consagração a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Ela deve ser verdadeiramente a nossa rainha e, para que isso aconteça, precisamos nos consagrar individualmente a ela. Se nos consagrarmos a Imaculada Virgem Maria, estaremos também nos consagrando a Jesus Cristo, realizando em nós o sonho de Dom Afonso.

Assim, para realizar esta entrega, recomendamos vivamente a consagração total a Jesus Cristo, pelas mãos da Virgem Maria, segundo livro Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Quem faz essa consagração se compromete a ser fiel às promessas do batismo, ou seja, renunciar ao mal, ao pecado e a Satanás, e viver a vida nova em Cristo.

consagração nos ajuda a viver essa vida nova e uma verdadeira devoção a Nossa Senhora, que não se limita a venerar e honrar um nome de Maria, mas também a sua pessoa, que hoje registramos carinhosa e amorosamente sob o título de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil e de Portugal!

Nossa Senhora da Conceição Aparecida, rogai por nós!

O jovem é chamado a ter um espírito de ousadia!

Na nossa vida de intimidade com Deus, sempre chega um momento em que o Senhor nos pede algo a mais. Muitas vezes, nos encontramos naquele mesmo cenário da parábola do jovem rico, que vivia os mandamentos e era uma pessoa boa, mas quando o Senhor lhe pediu para dar todos os seus bens aos pobres e O seguir, aquele jovem foi embora entristecido.

Você já se encontrou na situação onde Deus te convida a fazer algo que lhe custa muito? Eu já! Quantas vezes tive medo de me entregar totalmente a Deus porque não queria que a vontade d’Ele fosse diferente da minha e me apeguei aos meus “bens”, como o comodismo e o conforto, em vez de largar tudo e segui-Lo. 

Às vezes, é difícil compreender que a vontade de Deus é sempre melhor do que a nossa! O jovem rico ficou sozinho e triste porque não se entregou livremente a Deus, ele não teve a ousadia de atender ao chamado do Senhor e de aceitar a graça.

Créditos: FluxFactory by GettyImages./cancaonova.com

Um conselho para nós

E é aí que eu faço um lembrete para mim e para você, um conselho de Paulo ao jovem Timóteo: “Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de força, de amor e de moderação” (II Tm 1,7). 

Uma característica presente na vida dos apóstolos e de todos os outros santos é a ousadia. Eles tinham a coragem para pregar o Evangelho e abandonar tudo para fazer a vontade de Deus. Isso faz parte da identidade cristã.

Seguir os mandamentos, ter uma vida de oração e frequentar os Sacramentos é a base, mas não paramos nisso. Nós todos somos chamados a crer no Evangelho e, depois, anunciá-Lo a toda criatura. Somos convidados a seguir Jesus, mas carregando a nossa cruz, renunciando a nossa vontade por amor a Ele. Somos convocados a ter esse espírito de ousadia!

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Sair do nosso conforto

Deus sempre vai nos pedir algo que nos custa. Muitas vezes, vai doer fazer o que Ele nos pede, porque, no início, não conseguimos enxergar os frutos que virão ao escolher à vontade d’Ele e sair do nosso conforto. Contudo, quando decidimos deixar os nossos “bens” para segui-Lo e carregar a nossa cruz, então, aos poucos, o Senhor vai nos revelando que fizemos a escolha certa, vamos percebendo que o caminho é sim frutuoso e que amadurecemos muito mais do que se tivéssemos recusado a graça. 

O Senhor nos espera! E Ele quer contar com a juventude para espalhar a Boa Nova. Ele quer jovens que tenham essa coragem, que desejem a santidade. O que está nos prendendo? O que está nos impedindo de aceitar a esse chamado? Quais são os bens que você possui e não quer desapegar?

Entregue todos esses medos a Deus e peça a graça de ter coragem para escolher a vontade d’Ele. E, aproveitando o tema da Jornada Mundial da Juventude, “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1,39), vamos recorrer ao maior exemplo de ousadia: Nossa Senhora! Ela não pensou duas vezes, aceitou a vontade de Deus e, apressadamente, partiu ao encontro de sua prima para servir e levar a presença de Cristo aos outros, como nós devemos fazer. 

Coragem! Encorajados pelas palavras de São João Paulo II: “Jovens de todos os continentes, não tenhais medo de ser os santos do novo milênio!”, vamos juntos gastar a nossa juventude por amor a Deus!

Maria Luiza Ferreira
integrante do @thepoiint

O padre é ser humano!

O padre é ser humano!

Essa parece ser a afirmação mais óbvia. No entanto, quase nunca é. Do sacerdote se exige. Todos exigem.  A Igreja exige, que tenha no padre, um modelo muito elevado: “alter Christus”.

Exige as pessoas, que querem o sacerdote à sua disposição 24 horas por dia.

Exige o sacerdote de si mesmo para que seja fiel à sua vocação.

No entanto, “até mesmo” o padre é um homem que pode se perder nos meandros de uma solidão espinhosa, devido à percepção de que muitas vezes se sente abandonado, desconsiderado, se não mesmo evitado.

O padre tem o direito de ser humano

É pungente e amarga a solidão do padre que procura uma mão para apertar, mas que não está lá; uma voz que lhe pergunta “como vai você?”, e ele não a ouve, pois ninguém jamais lhe fará essa pergunta cordial. As pessoas precisam de um sacerdote; portanto, elas o procuram somente quando precisam dele; uma Missa a ser celebrada, um Casamento a ser assistido, um Batismo a ser organizado … Em suma, a Paróquia, da qual o padre é o “posto de gasolina”, o “pronto socorro”, o “psicólogo” que não precisa ser pago.

Créditos: SeventyFour by GettyImages.

Quantos irmãos encontrei, quantos padres ouvi, quantas lágrimas enxuguei! Muitas vezes, conheci o desejo de um coirmão de parar e conversar comigo por um longo tempo para acumular cordialidade e solidariedade, para exorcizar, dessa forma, o medo da solidão. E quantas vezes eu mesmo me encontrei na mesma situação. Tudo bem que, por motivo de minha vocação – pois sou um monge –, eu vivo em uma comunidade, com outros irmãos. Mas no exercício do ministério, não apenas presbiteral, mas também como “homem de referência espiritual”. No serviço de escuta e acompanhamento, tenho encontrado irmãos padres que, muitas vezes, não conseguem pronunciar uma palavra sobre sua dor, mas somente querem ser acolhidos e abraçados. E percebo que minha função, na sala de atendimento do nosso mosteiro, é dizer ao padre: você pode ser homem e você tem o direito de ser humano.

A necessidade de uma inter-relacionalidade

É verdade que o padre é um homem solitário por causa de seu ministério. Porém, acredito que seja necessário não negar essa realidade, não diluí-la. É útil recomendar a preciosa ajuda que pode vir de uma vida comunitária, da amizade entre os padres, do vínculo sacramental com o presbitério etc… Desde que fique claro que a opção celibatária do padre católico de rito latino coloca o padre na condição de uma sofrida “solidão” que exacerba. Como em qualquer ser humano normal, a necessidade de uma inter-relacionalidade, que dilui a necessidade natural de afeto.

João Paulo II escreveu em Redemptor Hominis: “O homem não pode viver sem amor” (nº 10). E o amado Papa Emérito Bento XVI, em Deus caritas est, traçou o itinerário do amor, de eros a ágape e filia, que é uma obra-prima da antropologia cristã.

Não foram poucas as vezes em que vi, devido a circunstâncias particulares, a solidão se tornar um teste corrosivo e destrutivo para a pessoa e o ministério do presbítero. É por isso que falo sobre isso: para que nosso povo conheça e, longe de se escandalizar, compreenda e esteja realmente próximo de seus padres.

Poucas semanas atrás, enquanto nosso mosteiro hospedava um concerto de música clássica, vi que um padre jovem, de uma paróquia distante estava entre o público. Terminada a apresentação, o padre veio saudar-me, e eu o convidei para entrar e ficar um pouco, pois era uma noite de muito calor. Ficamos conversando por quase duas horas no refeitório do nosso mosteiro e entendemos o motivo que o trouxe: não era a música. Fiquei comovido quando este padre me falou com os olhos lacrimejando: “meus paroquianos não entendem o que é terminar o dia, no qual eu me gastei por completo, e chegar na minha casa e não encontrar uma luz acesa, não ouvir uma voz dizendo ‘ boa noite’.

A solidão é o resultado da condição humana

Não há dúvida: a solidão existe. Ela existe para todos. Pessoalmente, acho que, do ponto de vista psicológico, a solidão daqueles que vivem em um casal ou em uma família é mais trágica do que aqueles que vivem sozinhos. Afinal de contas, a solidão é o resultado da condição humana. Contudo, para o padre, essa provação é, sem dúvida, mais vivida por vários motivos:

– Porque ele sabe que sua solidão deve durar tanto quanto uma vida humana; a sua, humanamente falando, é uma solidão irreversível;
– Porque o sacerdote tem uma interioridade pronunciada, uma existência espiritual que refina as qualidades do ministério. Mas também aumenta a consciência da limitação;
– Porque ele é um homem da Igreja e conhece as falhas de alguns de seus irmãos. Os passos errados de alguns de seus amigos, e não pode deixar de se perguntar, sem se escandalizar. “E se isso acontecesse comigo”?
– Porque o padre é um homem no mundo, mesmo que não seja do mundo. Perceber o sofrimento e o desconforto causados ​​pela solidão na sociedade à qual pertence. Quantas pessoas terão se dirigido a ele denunciando sua solidão.

A humanidade e a masculinidade é identidade do sacerdote

Em suma, ai de nós se esquecemos que o padre é um homem que pode ter algumas necessidades básicas! Ele pode experimentar a solidão de uma noite sem dormir, quando se deixa assolar pelo medo, e o medo gerado pelo medo. Isso não perturba a dimensão espiritual do sacerdote. Pelo contrário: sua humanidade, sua masculinidade é sua identidade.

Na Pastores dabo Vobis, número 72, João Paulo II, convidando os sacerdotes da Igreja Católica à formação permanente, indicou-lhes como primeira área de reciclagem e atualização aquilo que é humano.

Sempre me comoveu a viajantes de meu irmão. A sua dificuldade em admiti-la, seu medo de se sentir inadequado “para as coisas de Deus”. Porém, sempre tive medo de padres que “dizem” não ter medo. Os que ostentam confiança, que não param no caminho para se confortar e se consolar. Sempre tive medo de padres que escondem sua própria humanidade e o fazem condenando a dos outros. Os padres “três vezes admiráveis”, que, do “trono de sua casta santidade”. Vivem perseguindo os próprios irmãos de ministério, em vez de ser o “óleo de cura”. Autocentrados, adoecidos pelo recalque narcísico, fazem da impecabilidade o motor infecundo e estéril de suas vidas. Totalmente oposto ao projeto amoroso de Jesus de Nazaré.

Santo Cura d’Ars, João Maria Vianney, padroeiro dos sacerdotes

Hoje, a festa do Santo Cura d’Ars, João Maria Vianney, poderá ser um dia propício para nós, padres, revisitarmos a nossa história. Redescobrir em nós as razões que deram sentido à nossa vida e, consequentemente, ao nosso ministério. Filho de seu tempo, na cultura religiosa de sua geografia, o pároco de Ars, entendeu a si mesmo como homem. Tornou fecunda sua vida e o ministério à qual foi escolhido. Reproduzir seus métodos e seu mundo teológico é tomá-lo como modelo para nós, padres de hoje. Mas ele é modelo de sacerdote, quando nós somos capazes de articular nosso mundo interior com o discurso que fazemos. E isso é viver de forma consciente (com todas as nossas fragilidades e contradições). Quando isso acontece, o padre nasce humano!

Os primeiros a não negarem a humanidade!

Uma coisa é certa, o caminho de humanização de um padre é sempre percorrido em companhia daquela que é o centro de sua vida. E o objeto de seu amor, Jesus. Assim, entendemos Suas palavras dirigidas a Pedro, na noite do Getsêmani: “Foi ter então com os discípulos e os encontrados dormindo. E disse a Pedro: “Então, não pudestes vigiar uma hora comigo…” (Mateus 26, 40).

Nós, padres, nascemos homens quando somos os primeiros a não negar a nossa humanidade, acolhendo-nos como somos, ainda que, no auge de nosso ministério, como no Getsemani de Jesus, o “sono” de nossa verdade fale mais alto. Como aconteceu com Pedro, nós não seremos menos padres por causa disso. Assim como Pedro não foi menos Pedro porque dormiu naquela noite.

Compreender e amar

Minha oração de padre, nesse dia, é um pedido:
– Em nome de muitos padres: amem os sacerdotes
– Que entendam a humanidade do sacerdote;
– Que não se maravilhem e não se escandalizem com a humanidade do sacerdote;
-Peço, em nome de todos os sacerdotes, até mesmo para perdoar a humanidade do seu pároco, do seu vigário, do padre de sua comunidade.

Um sacerdote que é compreendido por seu povo será mais facilmente fortalecido na oferta de sua vida ao Senhor e ao seu povo. O sacerdote, que vive entre pessoas que querem ser compreendidos e amados, deve ser compreendido e amado para que possa ser um homem, humanizado e, ao mesmo tempo, alter Christus.

Fonte: Canção nova