Ele vem “Yeshua”

Educar os filhos

A EDUCAÇÃO DOS FILHOS


“Corrige teu filho enquanto há esperança, mas não te enfureças até fazê-lo perecer.” Provérbios 19,18

“Ensina à criança o caminho que ela deve seguir; mesmo quando envelhecer, dele não se há de afastar.” Provérbios 22,6

1º) Amor e fidelidade dos pais – Quando os pais se amam, dão o primeiro passo – mas não o único – para educarem bem seus filhos. A educação pressupõe amor. O amor de quem gerou com a missão de educar. Os filhos têm percepção sobre isto, ou seja, eles percebem quando não há união dos pais, e isto repercute muito na comunicação entre pais e filhos. De onde vêm a segurança dos filhos? Do saber-se acolhido, amparado por pais seguros. A segurança vem do amor, não da estabilidade financeira. Há casais que são estáveis financeiramente, mas instáveis no amor. Ser instável no amor é ser fiel ou infiel, conforme a circunstância. O verdadeiro amor é sempre fiel: saudáveis ou doentes, ricos ou pobres, na paz ou na turbulência, diante das qualidades e defeitos dos seus é sempre fiel.
Não me refiro somente à fidelidade de quem não cai no adultério, vou mais além: quem deixa de manifestar seu amor com atitudes, por causa das dificuldades, já está sendo infiel. Nossa família precisa aprender a viver o amor incondicional. O amor é provado nas dificuldades, e é fortalecido ao passar por elas. O seu amor passou por estas provas? Ou desistiu de amar por muito pouco?

Exemplos: Ter o mesmo carinho e cuidado com o esposo mesmo quando está desempregado, ter o mesmo carinho e cuidado com a esposa quando ela está doente, quando a relação sexual não pode acontecer, continuar amando quando o filho apresenta uma doença ou deficiência grave, quando é preciso acolher a sogra em casa por alguns meses… Manter o amor vivo nestes casos, é ter o terreno preparado para bem educar os filhos.

O filho inseguro em relação ao amor entre os pais, é inseguro em relação ao amor dos pais por ele.

2º) Fidelidade a Deus – Em quem os pais buscam força e confiança? Esta força é vulnerável, balança ao sabor das ondas? Se formos fiéis a Deus, seremos fiéis à nossa família, pois é isso que Deus nos ensina. A paternidade humana deve ter coerência e concordância com a paternidade de Deus, tão bem compreendida por São José. A maternidade humana deve inspirar-se na maternidade de Maria Santíssima. De onde vêm o nosso aprendizado sobre o ser pai e mãe? Naquilo que vivemos com nossos próprios pais, devemos selecionar o que é bom ou ruim, e aproveitar o que é bom. Não tiraremos exemplos bons de novelas, tenhamos cuidado onde nos influenciamos em nosso comportamento como pais e sejamos fiéis a Deus para sermos salvos, e para que toda a nossa família seja salva. “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua família”. (Atos 16,31)

Exemplos: Uma mãe que gostaria muito de ficar mais tempo em casa com os filhos, a renda financeira permite isto, mas o casal opta pela mãe se ausentar do lar durante 14 horas seguidas, por influência da mídia, dos pais… Está buscando referência onde? Um casal que rezava junto antes da chegada dos filhos, mas agora que tem dois filhos, já não vai mais à missa porque os filhos fazem bagunça, estão cansados… Está sendo fiel a quem? Como os filhos aprenderão a importância da fidelidade a Deus? No colo dos pais.

Para os casais que querem educar os filhos de maneira cristã, devem buscar em Cristo todo o alicerce, amar seu cônjuge e seus filhos “como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela”.

3º) Gastar tempo com os filhos – Se somos pais, devemos saber que o nosso coração é dividido entre Deus, cônjuge e no número de filhos. Entendamos que precisamos ter tempo para cada um deles. Os filhos farão a experiência de sentirem-se amados por nós na medida em que comemos com eles, brincamos com eles, acompanhamos e tiramos suas dúvidas na lição de casa, escutamos com interesse aquilo que aconteceu na escola… Sem deixarmos nossos gostos pessoais, sem deixarmos de dar atenção ao cônjuge, temos de viver a alegria e a realização (porque faz parte de nossa vocação) de nos entretermos com eles, de acordo com as necessidades próprias de cada idade.

Exemplos: Se um filho passa 12 horas na escola, e os pais reclamam na escola se o filho saiu da escola sem o banho tomado, sem jantar, e quando chegam em casa vão se entreter com a internet, com a televisão, será que estão tendo tempo de qualidade de convivência com seus filhos? Os filhos precisam marcar um horário para serem escutados por seus pais? Quando crescerem não dará mais tempo, nem os filhos precisarão do tempo que os pais podiam ter gastado com eles… As conseqüências já estarão se desenrolando… Boas ou não…

Não são os presentes que damos aos nossos filhos que marcarão a nossa passagem na vida deles, mas o tempo que gastamos com eles. Muitos sentiram mais a morte de suas babás do que de suas próprias mães.

4º) Conhecer os filhos. Aceitar as diferenças de cada um e incentivar seu crescimento – Cada filho é único. Único em seus gostos, em seu temperamento, na sua maturidade, em suas reações. Não podemos pensar que a maneira com que corrigimos um filho terá o mesmo efeito e reação com o outro filho… Isto é conhecer e lidar com cada um individualmente. Apesar do nosso amor por cada um deles ser o mesmo, um filho exigirá mais ou menos empenho que o outro, dependendo da idade e da fase, e não devemos ficar comparando-os a todo o momento… Não são os mesmos, nem devem ser. A família é composta pelas diferenças entre seus membros e estas diferenças formam a beleza única de cada família e seus desafios demonstram a maneira que Deus escolheu para santificar e levar à salvação cada um da família.

Exemplos: Estimular o filho mais lento, refrear o filho mais impulsivo, motivar aquele aparentemente mais apático… Não exigir do filho de 3 anos o mesmo que se exige do filho de 12… Porém, ter a mesmo carinho e disposição para empregar os esforços para que tanto um quanto o outro se comportem bem…. Dar o exemplo, e ao seu tempo, deixar que eles mesmos façam por si só suas obrigações, mesmo que imperfeitas… Cada um arrumar sua cama, ter seus pertences em ordem, colaborar nas tarefas domésticas, ajudar o irmão mais novo na lição de casa, preparar um suco para o papai que chegará cansado do trabalho…

Cada filho tem em si todo o amor particular de Deus por ele, foi criado pelo amor único de Deus, e devemos ajudá-lo a descobrir sua vocação e aptidões, para que seja feliz em sua vida sobre a terra, vivendo o sonho de Deus para ele.

5º) Amor e firmeza – Estas duas medidas devem ser iguais, pois onde tiver uma e faltar a outra, verificaremos o desequilíbrio na educação de nossos filhos. Precisamos amar e demonstrar amor, com beijos, abraços, elogios, com contato físico, atenção, contando histórias, brincando… Mas também precisamos ser firmes naquilo que é o correto. Se só demonstrarmos amor, e não formos firmes ou se só formos firmes e não demonstrarmos amor seremos como uma pessoa bem vestida para uma festa, porém, com os pés descalços, ou com sapatos suntuosos, e com farrapos sobre o corpo…

Exemplos: Beijarmos a todo o momento nosso filho, dizendo que o amamos, mas não ensiná-lo a não deixar os tênis jogados pelo meio da sala, e nós recolhermos o que devia ser recolhido por ele… Será que está certo? Exigirmos que o filho fizesse suas lições de casa, mas falarmos isso de costas, sem verificar se precisa de ajuda, ou sem dar um Bom Dia…

Tanto o carinho quanto a correção são mais dignos de crédito, quando são equilibrados, e onde não falta nenhum dos dois.

6º) Pai e mãe – unidos na autoridade – O pai e a mãe devem de comum acordo, conversar e combinar aquilo que acham importante na educação dos filhos. Em alguns pontos podem até discordar, mas esta discordância deve ser acertada antes de chegar aos filhos, cada um cedendo um pouco na sua vontade, para que falem a mesma língua. Um lar onde as direções são opostas, por parte dos pais, é desgastante, os pais falam muito e os filhos obedecem pouco, pois “escolhem” a quem devem obedecer, conforme a conveniência, além de gerar insegurança. Não podemos também tirar a autoridade do cônjuge na frente dos filhos, discordando da sua correção, e tomando partido do filho. Mesmo que não concordemos, devemos ser razoáveis e esperar o tempo oportuno e a sós com o cônjuge para explicitar isso.

Exemplos: O pai fica demasiadamente bravo e dá um castigo porque o filho derrubou catchup na camiseta da escola. A mãe rapidamente já diz: “Pare de brigar com ele!” É um incidente corriqueiro, mas não deve acontecer, deixe o pai dar a bronca, reforce, se possível, o que o pai disse, dizendo: “Você tem que tomar mais cuidado, filho!”, ao invés de tirar a autoridade do pai. Depois que o filho for para a escola, você pode conversar com seu marido: “Não acha que foi um pouco ríspido com ele?”
Se continuarem com esse comportamento (de falta de unidade) ao longo da educação do seu filho, pode se deparar com seu filho aos 18 anos saindo com más companhias, e você mãe, escondendo do pai, por medo da correção dele. È assim que podemos perder nossos filhos para o mundo!

O lar deve ser transparente, os filhos devem saber que a postura deles é una, e os pais não devem ter medo de corrigirem os filhos quando necessário. Buscarão forças em Deus, e sabem que podem contar com o apoio um do outro.

7º) Devemos amar o nosso lar, ele deve ser um lugar feliz – O nosso lar deve ser um lugar onde é gostoso estar, onde “não vemos a hora de chegar nele”. Como isto é possível?Todos, na família, devem cuidar do ambiente físico, proporcionar momentos aconchegantes, festivos, o lugar deve ser limpo, cada um deve ter o seu espaço onde possa guardar suas coisas preferidas, intercalar a rotina com momentos livres. Se a rotina for militar ou se for totalmente sem horários sempre, como podemos manter a segurança e alegria do lar?

Exemplos: Precisamos ter horários, horários para sair da cama, para almoçar, para entrar na escola, entrar no trabalho, mas precisamos ter os momentos de oração, de lazer. A disciplina de um ajuda na descontração do outro. Não podemos levar nosso filho na escola cada dia num horário, todos os dias atrasado, dormirmos às três da manhã para acordar às seis, e querer que o filho tenha rendimento na escola… Se não tivermos um pouco de disciplina e rotina, ficamos doentes, pois precisamos nos alimentar, dormir, ler, descansar, trabalhar… Se equilibrarmos a nossa rotina, e ajudar nossos filhos a fazer o mesmo, seremos mais felizes…

“Nosso lar é o lugar onde devemos nos sentir seguros, à vontade, onde somos motivados a crescer e a vencer os desafios, dentro e fora de casa. No nosso lar, Deus deve ser honrado e servido com a vida de cada um da família.”

Sandra Capobianco
Discípula Sagrada Família

O Rosário e a paz

O Rosário e a paz
São Domingos de Gusmão, homem de ardor e zelo apostólicos, grande defensor e propagador do Rosário, fez desta fundamental prática de devoção mariana um eficaz instrumento para suas próprias necessidades, e usou-a com enorme NOSSA SENHORA ROSARIO fruto enquanto método de pregação. E, seguindo os passos de seu fundador, o Rosário tornou-se uma verdadeira glória da Ordem Dominicana, a qual lhe conferiu uma estrutura lógica e atraente, de fácil assimilação. Pouco habituado a longas e elevadas meditações, o povo se encanta com as fórmulas mais singelas.
Assim, o Rosário – ainda mais com o feliz acréscimo dos Mistérios Luminosos – se apresenta como um breve Catecismo sintetizando de maneira viva as principais verdades da fé. Coloca à disposição de quem o reza, um resumo do Evangelho, e quer seja em casa, na Igreja, ou pelos caminhos, recorda-se a Vida, Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, ao desfiar suas contas pelos Pai-Nossos, Ave-Marias e Glórias. Por outro lado, são numerosos os casos de intervenção marial ao longo da História, a propósito dessa devoção. Ao ponto de Gregório XIII fixar no primeiro sábado de outubro a festa de Nossa Senhora do Rosário. 
Paz, ensina Santo Agostinho, é a tranqüilidade da ordem. Tranqüilidade sem ordem, ou vice-versa, podem até existir, porém, em nenhum dos dois casos haverá paz, pois toda tranqüilidade nasce da quietude das coisas que não lutam por abandonar o lugar em que se encontram. Ora, por sua vez – e penetrando mais a fundo na questão – a paz é fruto do Espírito Santo pois d’Ele procede como de sua real semente, ou raiz.
Conforme nos ensina a Doutrina Católica, no normal processo dos frutos do Espírito Santo, o primeiro é a caridade, e sua conseqüência é o gozo. Ora, é de ambos que procede a paz. São Tomás de Aquino nos ensina que vive-se em perfeita ordem quando se está unido a Deus, por ser Ele o primeiro princípio e último fim de tudo quanto foi criado. Isto se deve a que quanto maior for o grau de união entre o homem e Deus, mais efetivo se tornará o descanso interior (“Sedatio a fluctuatione desiderii”). Também dessa união resultará uma calma confiante na presença de qualquer inimigo externo, e nada poderá incomodar ou perturbar quem se encontra assim relacionado com Deus, tal qual afirma São Paulo: “Se Deus está conosco, quem estará contra nós?” (Rm 8, 31).
Portanto, a paz tem seu fundamento na vida da graça e da caridade, por ser fruto do Espírito Santo. Ela se torna real quando se vive com Cristo Jesus. Em face dessa evidência, uma era histórica constituída na impiedade, no pecado e na maldade não pode gozar da verdadeira paz, como nos afirma Isaías: “Não há paz para os ímpios, diz o Senhor Deus” (Is 57, 20). Daí os crimes, atentados, seqüestros, terrorismos, guerras, etc. Se as calamidades em nossa época vêm atingindo um patamar inimaginável, chegou o momento de se implorar a paz, e o grande meio de obtê-la é o Santo Rosário. Mas, não nos esqueçamos que “Cristo é nossa paz” (Ef 2,14). E de fato Ele o é por ser autor da graça: “A graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1, 17).

Eu estava errado. Perdoe-me!

Eu estava errado. Perdoe-me!

Por qual motivo temos dificuldade de pedir perdão?
Em muitas situações de desentendimento e desconfiança nos relacionamentos humanos, bem como nas separações, brigas no trabalho e nos ambientes sociais, é importante reconhecermos uma de nossas grandes falhas: a falta de um pedido de perdão. Não reconhecermos nossos erros é um grande obstáculo na qualidade do convívio. 
Por qual motivo temos estas dificuldades? Um deles é admitir a “perda da nossa dignidade”, ter de passar por cima do nosso orgulho, sentirmo-nos ameaçados ao expormos nossos pontos fracos, ou que, ao pedirmos desculpas, o outro “nos ‘passe na cara’ ou use isto como uma vingança”, ou ainda que “seja lembrado pelos erros ou punido por ser honesto”. (Powell, J. 1985). Acho que, muitas vezes, você já viveu isto, não é mesmo? 
Em várias situações, sentimo-nos inferiores ao pedir desculpas; temos a necessidade de passar parte de nossa vida provando que somos sempre certos, que somos sempre capazes, que somos fortes e invencíveis. De alguma forma, esta necessidade vai sendo imposta a nós e pode ser uma grande armadilha em nossas vidas. 
Em outras situações, posso usar o seguinte pensamento: “se não recebi as desculpas do outro, por que eu vou me sujeitar a pedir desculpas?”. Isto nada mais é do que um grande processo de imaturidade, ao deixarmos que os comportamentos da outra pessoa possam determinar os nossos comportamentos e atitudes. É como achar certo roubar, porque alguém já roubou, não foi descoberto e nunca foi punido. 
Para que possamos chegar ao ponto de pedir desculpas, é válido encontrar um ponto de honestidade com nós mesmos, assumindo falhas e limitações. Esta honestidade interior faz com que vejamos, verdadeiramente, nossa responsabilidade nas situações, possamos reconhecer o que fizemos e entrar numa atitude de reconciliação com o outro. Talvez, nem sempre consigamos perdão, mas a atitude de reconhecer é totalmente sua e, certamente, muito libertadora. 
Peça desculpas, mas livre-se dos que levam você a pensar: “você provocou isto”, “só reagi assim, porque você é culpado”, “estou tratando você como fui tratado por você”. Tais formas “racionais” de explicar um fato, apenas alimentam em nós mais raiva e mais ressentimento. Faz com que cubramos nossos erros e não permite que, honestamente, possamos admitir o que foi feito de errado. 
“O perdão é instrumento de vida” (Cencini, A . 2005) e “força que pode mudar o ser humano”. Certamente, “a falha em pedir desculpas”  e em perdoar só servirão para prolongar a separação entre duas pessoas. Para isto, “a verdade precisa estar presente em todos os sinceros pedidos de desculpa” (Powell, J. 1985), compreendendo a extensão dos prejuízos que nossas atitudes, por vezes desordenadas e desmedidas, possam ter provocado na vida do outro. 
Por vezes, precisamos quebrar nossas barreiras interiores e realizarmos um grande esforço ao dizer: “Eu estava errado, perdoe-me!”, pois este esforço fará sua vida muito melhor, mesmo que o outro não aceite, de imediato, seu pedido, mas sua vida já foi mudada a partir deste gesto. 
 
Pense nisto: Para quem você gostaria de pedir perdão hoje? 
Elaine Ribeiro
elaine.ribeiro@cancaonova.com

Amor à vida ou à mentira?

Amor à vida ou à mentira?

Tirem Deus da sociedade e salve-se quem puder!

No dia 1º de julho, o corpo do menino Brayan Capcha, de 5 anos, foi levado para a Bolívia, onde havia nascido. Ele tinha sido assassinado com um tiro na cabeça alguns dias antes, em São Paulo, depois de entregar ao criminoso os últimos centavos que carregava consigo. Entre lágrimas, pediu-lhe que não matasse a mãe e o deixasse viver. Mas o assaltante não tolerou o seu choro e lhe desferiu um tiro na cabeça.

No mesmo dia, o Parlamento da Bélgica começou a debater a aplicação da eutanásia para os menores de idade. Para os adultos, ela está em vigor desde o ano de 2002, e lhes permite pôr fim à vida com uma injeção letal em casos de doenças terminais. A partir de então, 1.432 pessoas recorreram à medida. A nova proposta de lei autoriza os médicos a atender ao pedido de crianças e adolescentes que solicitam a eutanásia «por se encontrarem em situações médicas sem saída, em estado de sofrimento físico, psíquico constante e insuportável».

Em julho também vieram à tona as declarações do Ministro da Economia do Japão, Taro Asso, sugerindo que, por motivos econômicos e para o bem da nação, «os idosos se apressem a morrer. Se eu estivesse na situação dessas pessoas de idade avançada que recebem acompanhamento médico, sentir-me-ia mal, sabendo que o tratamento é pago pelo Estado». 

Estes e mil outros fatos do mesmo teor que sucedem diariamente no mundo refletem a mentalidade pagã que tomou conta de amplos setores da sociedade atual, a começar de algumas lideranças políticas. Concretiza-se, assim, a “profecia” feita pelo escritor russo Fiodor Dostoievski, há 150 anos: «Tirem Deus da sociedade e salve-se quem puder!». Com ele concorda o Papa Francisco, num pronunciamento que fez no Rio de Janeiro, no dia 27 de julho: «Em muitos ambientes, ganhou espaço a cultura da exclusão e do descartável. Não há mais lugar para o idoso e para o filho indesejado. Não há mais tempo para se deter com o pobre caído à margem da estrada. As relações humanas parecem regidas por apenas dois dogmas: a eficiência e o pragmatismo».

Escrevi acima que, em alguns países, essa mentalidade pagã está sendo propugnada por autoridades políticas. Mas, para ser exato, preciso incluir na lista também os meios de comunicação social. Um exemplo concreto foi dado pela Rede Globo no dia 23 de agosto, através da novela “Amor à vida”. Em dado momento, um ator no papel de médico, afirmou que «o aborto ilegal está entre as maiores causas de mortes de mulheres no Brasil, um caso de saúde pública».

Graças a Deus, de uns anos para cá, muitos leigos cristãos passaram a ocupar o seu lugar, não apenas na Igreja, mediante serviços litúrgicos e catequéticos, mas também na sociedade. Foi o que se viu na “nota” que dirigentes do “Movimento Nacional da Cidadania pela Vida (Brasil sem Aborto)” difundiram no dia 23 de agosto, contestando a Globo e pondo os pontos nos is: «Os dados oficiais, disponíveis no Datasus, atestam que, no Brasil, em 2011 (último ano a ter os dados totalmente disponíveis), faleceram 504.415 mulheres. O número máximo de mortes maternas por aborto provocado, incluindo os casos não especificados, corresponde a 69, sendo uma delas o aborto dito legal. Portanto, apenas 0,013% das mortes de mulheres se devem a aborto ilegal. 31,7% das mulheres morreram de doenças do aparelho circulatório e 17,03% de tumores. Estes, sim, constituem problemas de saúde pública.

A Globo fez também clara confusão entre os conceitos de “omissão de socorro” e “objeção de consciência”, com laivos de intolerância à liberdade religiosa. Desconhecemos que alguma religião impeça seus membros de prestar socorro a “pecadores”. Se assim fosse, inúmeros assaltantes e assassinos que chegam baleados aos hospitais, ficariam sem atendimento. Se até um bandido assassino, que foi ferido no embate, tem direito a atendimento médico, como caberia negá-lo em situações de sequelas do aborto? Se a Rede Globo deseja problematizar o debate, que o faça a partir de dados e situações verazes, e não se contente em reproduzir jargões propagandísticos!».

Tudo isso para não voltar aos tempos e aos métodos de Voltaire: «Menti, menti, que alguma coisa ficará!»


Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo de Dourados (MS)
E-mail para contato: redovinorizzardo@gmail.com

No mundo, sem ser do mundo

No mundo, sem ser do mundo

Uma renovada fidelidade na administração dos bens do mundo

“Eu não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno. Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo. Consagra-os pela verdade: a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo” 
(Jo 17,15-18). 

Em tempos recentes, o Papa Francisco, continuando um processo iniciado pelo seu predecessor, tem sinalizado com uma série de medidas a realização de reformas administrativas na Igreja. Trata-se de confrontar com o Evangelho, cada dia com maiores exigências, a prática dos cristãos e dos organismos de governo da Igreja. Por outro lado, pelo mundo inteiro cresce a consciência dos valores éticos a serem reconhecidos e respeitados no trato com a coisa pública. Em nosso país, pelo menos, a sensibilidade da sociedade se torna mais aguçada para reagir diante da corrupção e dos desmandos existentes nos vários níveis de poder. Aumentado o escândalo, a vigilância se torna mais atenta.

As parábolas de Jesus são tiradas dos fatos cotidianos ou da natureza para lançar luz sobre os acontecimentos e suscitar novas decisões nas pessoas. No Evangelho de São Lucas, recheado de sensibilidade pelos mais pobres, ganham relevo algumas delas, cuja atualidade se torna um verdadeiro presente de Deus para o nosso tempo. Um administrador ladino (Lc 16, 1-13) deve prestar contas de sua administração e, de acordo com os devedores de seu patrão, oferece-lhes um desconto extra. Hoje, tais acordos são milionários, com dinheiro que atravessa fronteiras para ser “lavado” ou entidades fictícias. E envolvem altas esferas dos poderes das diversas nações do mundo! Sabemos ainda que a esperteza dos interesses econômicos pode até ser justificada em nome do grande valor da paz. Não é de pouca monta o que corre pelo mundo com a fabricação e comercialização de armas. Justamente agora, usando as armas bíblicas da oração e do jejum, na grande convocação feita pelo Papa Francisco, foram desconcertados os poderes do mundo. Ele pediu a verdadeira paz para não acrescentar uma guerra a mais às existentes.

Sua voz ressoou pelo mundo: “É possível percorrer o caminho da paz? Podemos sair desta espiral de dor e de morte? Podemos aprender de novo a caminhar e percorrer o caminho da paz? Invocando a ajuda de Deus, sob o olhar materno da Rainha da paz, quero responder: ‘Sim, é possível para todos!’ Queria que, de todos os cantos da terra, gritássemos: ‘Sim, é possível para todos!’ E mais ainda, queria que cada um de nós, desde o menor até o maior, inclusive aqueles que estão chamados a governar as nações, respondesse: ‘Sim, queremos!’ A minha fé cristã me leva a olhar para a cruz. Como eu queria que, por um momento, todos os homens e mulheres de boa vontade olhassem para a cruz! Na cruz podemos ver a resposta de Deus: ali à violência não se respondeu com violência, à morte não se respondeu com a linguagem da morte. No silêncio da cruz se cala o fragor das armas e fala a linguagem da reconciliação, do perdão, do diálogo, da paz. Queria pedir ao Senhor que nós cristãos e os irmãos de outras religiões, todos os homens e mulheres de boa vontade gritassem com força: ‘A violência e a guerra nunca são o caminho da paz!’ Que cada um olhe dentro da própria consciência e escute a palavra que diz: sai dos teus interesses que atrofiam o teu coração, supera a indiferença para com o outro que torna o teu coração insensível, vence as tuas razões de morte e abre-te ao diálogo, à reconciliação. Olha a dor do teu irmão. Penso nas crianças, somente nelas. Olha a dor do teu irmão, e não acrescentes mais dor, segura a tua mão, reconstrói a harmonia perdida; e isso não com o confronto, mas com o encontro! Que acabe o barulho das armas! A guerra sempre significa o fracasso da paz, é sempre uma derrota para a humanidade. Ressoem mais uma vez as palavras de Paulo VI: ‘Nunca mais uns contra os outros, não mais, nunca mais… Nunca mais a guerra, nunca mais a guerra!’ (Discurso às Nações Unidas, 4 de outubro de 1965). ‘A paz se afirma somente com a paz; e a paz não separada dos deveres da justiça, mas alimentada pelo próprio sacrifício, pela clemência, pela misericórdia, pela caridade’ (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, de 1976). Irmãos e irmãs, perdão, diálogo, reconciliação são as palavras da paz: na amada nação síria, no Oriente Médio, em todo o mundo! Rezemos pela reconciliação e pela paz, e nos tornemos todos, em todos os ambientes, homens e mulheres de reconciliação e de paz” (Homilia na Vigília pela paz, no da 7 de setembro de 2013).

O Senhor pede aos cristãos, hoje como ontem, uma renovada fidelidade na administração dos bens do mundo e na procura do progresso e da paz, como consequência da escolha feita no coração de cada um. Um adequado senso de realismo ajudará a perceber os riscos existentes. Como o coração humano pode ser dissimulado e astucioso, vale a vigilância constante, suscitada pela oração, assim como a revisão de vida, a fim de que não se comece pelos centavos para depois chegar aos milhões no uso injusto dos bens da terra. É possível, sim, que a maldade e a corrupção entre nos ambientes da própria Igreja e na prática dos cristãos! É muito fácil acostumar-se ao “todo mundo faz”! Nivelar por baixo o comportamento já trouxe e trará mais ainda muitos desastres. E aos que pretendem cuidar por si dos próprios interesses, as normas de administração aconselham consultorias, que não são outra coisa senão a capacidade de ouvir os outros e levar em conta sua visão mais objetiva. Além disso, transparência é estrada a ser percorrida pelos cristãos presentes em qualquer campo da sociedade. E ela só faz bem!

Podemos acolher o Evangelho para estar no mundo sem ser ou se contaminar com o mundo, por meio de recomendações precisas e límpidas: “Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas grandes, e quem é injusto nas pequenas será injusto também nas grandes. Por isso, se não sois fiéis no uso do ‘dinheiro iníquo’, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso? Ninguém pode servir a dois senhores. Pois vai odiar a um e amar o outro, ou se apegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 10-13). É tarefa para uma vida inteira! Para alcançar tais objetivos, “que se façam súplicas, orações, intercessões, ação de graças, por todas as pessoas, pelos reis e pelas autoridades em geral, para que possamos levar uma vida calma e tranquila, com toda a piedade e dignidade. Isto é bom e agradável a Deus, nosso Salvador” (1 Tm 2, 1-2).

Foto

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém – PA