CANTO LITÚRGICO, CATEQUESE E COMUNICAÇÃO

CANTO LITÚRGICO, CATEQUESE E COMUNICAÇÃO

 

Por Dom
Orani João Tempesta

RIO DE
JANEIRO, sexta-feira, 22 de julho de 2011 (
ZENIT.org) – Ente
as alegrias dos encontros de comunicação que tivemos a oportunidade de hospedar
nas últimas duas semanas, acrescentamos o 50º Curso de Canto Pastoral. Cantar a
Liturgia é também comunicação! Este ano ele foi dedicado ao Mons. Amaro
Cavalcante de Albuquerque Filho que o iniciou aqui no Rio de Janeiro. Foram
muitos encontros nesse mesmo estilo espalhados pelo Brasil na década de 60.
Esses cursos, frutos do “movimento litúrgico”, antecedeu, preparou e
concretizou posteriormente o Concílio Vaticano II. Ele conta com uma parte
teórica e formativa e outra de ensaio das novas melodias que a cada ano
enriquecem o repertório musical de nossa Igreja. Mas, o Canto Litúrgico é
também catequético. Ele supõe e educa à fe. 

O desafio
da Igreja é a evangelização do mundo de hoje, mesmo em territórios onde a
Igreja já se encontra implantada há mais tempo. Nossa realidade pede uma nova
evangelização. A catequese coloca-se dentro desta perspectiva evangelizadora,
mostrando uma grande paixão pelo anúncio do Evangelho. Entrar no Mistério
Pascal supõe uma catequese aprofundada. Talvez a grande dificuldades hoje seja
justamente essa! Não bastam apenas as adaptações exteriores, é importante um
aprofundamento da fé no Mistério Eucarístico.

Por isso
seria importante que, como consequência dos encontros de Comunicação (Seminário
dos Bispos e Mutirão Brasileiro de Comunicação) e do jubileu de ouro dos
encontros de Canto Pastoral, que pudéssemos estar nos comprometendo ainda mais
com a Iniciação Cristã para uma catequese que aprofunde a fé de nosso povo.

Sendo o
anúncio de Jesus Cristo um momento da evangelização (querigma), a
catequese  é um modo, dando-lhe continuidade. Sua finalidade é aprofundar
e amadurecer a fé, educando o convertido para que se incorpore à comunidade
cristã. A catequese sempre supõe a evangelização. Por sua vez à catequese
segue-se o terceiro momento: a ação pastoral para os fiéis já iniciados à fé,
no seio da comunidade cristã através da formação continuada. Catequese e ação
pastoral se impregnam do ardor missionário, visando à adesão mais plena a Jesus
Cristo. 

A
atividade da Igreja, de modo especial a catequese, traduz sempre a mística
missionária que animava os primeiros cristãos. A catequese exige conversão
interior e contínuo retorno ao núcleo do Evangelho (querigma), ou seja, ao
Mistério de Jesus Cristo em sua Páscoa libertadora, vivida e celebrada
continuamente na liturgia. Sem isso, ela deixa de produzir os frutos desejados.
Toda ação da Igreja leva ao seguimento mais intenso de Jesus e o compromisso com
seu projeto missionário. 

A
liturgia é comunicação, mas é também catequese. Por isso, junto com o primeiro
anúncio, sempre temos que nos preocupar com o aprofundamento da fé.

O fruto
da evangelização e da Catequese é o fazer discípulos: acolher a Palavra,
aceitar Deus na própria vida, como dom da fé. Há certas condições da nossa
parte, que se resumem em duas palavras evangélicas: conversão e seguimento. A
fé é uma caminhada, conduzida pelo Espírito Santo, a partir de uma opção de
vida e uma adesão pessoal a Deus, através de Jesus Cristo, e ao seu projeto
para o mundo. Isso supõe também uma aceitação intelectual, um conhecimento da
mensagem de Jesus. O seguimento de Jesus Cristo realiza-se, porém, na
comunidade fraterna. O discipulado, que é o aprofundamento do seguimento,
implica renúncia a tudo o que se opõe ao projeto de Deus e que diminui a
pessoa. Leva à proximidade e intimidade com Jesus Cristo e ao compromisso com a
comunidade e com a missão.

A
catequese é, em primeiro lugar, uma ação eclesial: a Igreja transmite a fé que
ela mesma vive e o catequista é um porta-voz da comunidade e não de uma
doutrina pessoal. A catequese faz parte do ministério da Palavra e do
profetismo eclesial. O catequista é um autêntico profeta, pois pronuncia a
Palavra de Deus, na força do Espírito Santo. Fiel à pedagogia divina, a
catequese ilumina e revela o sentido da vida. 

A
catequese comunica uma experiência de vida, um compromisso de fé, um caminho de
seguimento. “O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos
com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, o que nossas mãos tocaram
acerca da palavra de vida… isto vo-lo anunciamos, a fim de que estejais
unidos a nós” (cf 1Jo 1,1-3).

A
catequese, mais do que transmitir verdades, comunica uma mensagem de vida, de
fé, de compromisso com Deus, consigo mesmo, com o irmão e com a comunidade.

A
catequese acontece através da intercomunicação pessoal e através da comunicação
grupal como exercício de vida comunitária e partilhada.

A
catequese agora necessita avançar para o uso dos equipamentos modernos de
comunicação. As novas gerações nascem dentro da tecnologia.

A
catequese na sua missão de fazer ecoar a mensagem da Boa Nova de Cristo, deve
criar instrumentos que garantam um processo de comunicação participativo e circular;
valorizar a presença na comunidade local dos catequistas com uma formação
especial no campo da comunicação. A Igreja deve estar atenta às perspectivas
que se abrem no campo da educação a distância.

O
educador na fé procura continuar a missão iniciada por Jesus guiado pelo
Espírito Santo. Este serviço na Igreja é de fundamental importância. A Igreja
valorizando o ministério dos catequistas atesta que serviço mais belo que o do
catequista que anuncia a Palavra divina, que se une com amor, confiança e
respeito ao próprio irmão, para ajudá-lo a descobrir e realizar os desígnios
providenciais de Deus sobre ele. Eis que a missão do catequista consiste também
em fomentar que as nossas comunidades sejam mais acolhedoras e
catequizadoras. 

O
catequista é um anunciador da Palavra, alguém que procura de fato vivenciá-la
no dia a dia. Seu testemunho é fundamental, pois não se pode separar a fé da
vida quotidiana. O educador na fé tem uma tarefa extremamente árdua e delicada,
porque a catequese não é um simples ensino, mas a transmissão de uma mensagem
de vida, como jamais será possível encontrar em outras expressões do pensamento
humano. Quem diz ‘mensagem’, diz algo mais do que doutrina. Quantas doutrinas
jamais chegam a ser mensagem! A mensagem não se limita a expor idéias, ela
exige uma resposta, pois é interpelação entre pessoas, entre aquele que propõe
e aquele que responde. A mensagem é vida. Cristo anunciou a Boa Nova, a
salvação e a felicidade. Por ser uma mensagem de vida, é que a Igreja catequiza
o povo.

A
Catequese nos últimos anos deu passos significativos. Em toda parte percebe-se
um fervilhar de novas experiências e métodos mais adequados que nos orientem na
caminhada. Este processo de renovação depara-se com alguns desafios: a
catequese não pode ser uma simples iniciativa baseada na boa vontade, na
improvisação. Disso decorre a necessidade de pensar, organizar e atualizar a
catequese, buscar novos areópagos, animar os catequistas, criar um clima
humano-afetivo.  Surge assim a missão da Igreja do qual depende, em grande
parte, a dinâmica e a renovação da catequese numa comunidade. Não tenha medo e,
avance nas águas mais profundas atendendo ao apelo de Cristo e da Igreja, de
anunciar o Evangelho e catequizar os homens e mulheres de boa vontade.

Dom Orani
João Tempesta, O. Cist., é arcebispo metropolitano de São Sebastião do Rio de
Janeiro