Catedral Nossa Senhora de Belém


Guarapuava é um milagre de Nossa Senhora de Belém. Foi pois, graças à devoção à essa Santa, que os pioneiros da primeira hora encontraram forças e coragem para enfrentar tantos desafios, a começar pela falta de recursos eram pessoas pobres. Aqui se depararam com um meio agreste, onde tudo estava por fazer; muito distante e sem qualquer comunicação. Um sertão infestado de feras bravias, com índios enfurecidos que queimavam as casas das fazendas e da Freguesia, cobertas de capim ou taboinha; envenenavam os olhos d’água, roubavam e matavam o gado. Famílias inteiras foram dizimadas, com alguns escravos e agregados. Além de tudo, ainda tiveram que alimentar, dar abrigo, conviver e se defender de criminosos(degredados) condenados à morte ou a muitos anos de prisão, que reincidiam no crime e violentavam as mulheres.


Ao chegar no Atalaia os pioneiros levantaram uma capela, coberta de capim, sob a invocação de Nossa Senhora de Belém. Passados 8 anos, para firmar a posse e conquista e, – graças a uma representação do Padre Chagas, enviada ao Triunvirato que governava São Paulo D. João, em 7 de julho de 1818 criou a “Paróquia Perpétua” e, em 11 de novembro de 1818, por alvará régio, criou a Freguesia de Nossa Senhora de Belém de Guarapuava. Alguns dias após, (18/11/818) concedeu uma quantia anual de 200$000 (duzentos mil réis) para a ereção da Matriz.


A localização da nova freguesia e paróquia provocou muitos debates; alguns queriam que fosse no “meio da campanha, “dominando os 4 ventos e léguas de terra”, para evitar ataques de surpresa do gentio. Outros preferiam o Morro Chato ou Morro do Padre, no Pinhão. O agrimensor e os influentes da Expedição justificavam que deveria ser no Pontão das Estacadas, no Campo Real, onde já haviam iniciado à construção da cidade Real João. Venceu a opinião do Padre Chagas, que queria a freguesia entre os rios Coutinho (Coitinho) e Jordão, a 25º e 23′ de latitude Sul.


Assim, na manhã de 9 de dezembro de 1819, o Vigário e o Tenente Antônio da Rocha Loures (que havia assumido o comando da Expedição interinamente) lavraram o Auto de Fundação e fizeram a demarcação da Freguesia e Matriz de Nossa Senhora de Belém. No centro ficaria um quadrado com 90 braças de lado; na parte superior a igreja e a casa do vigário. Nas laterais fica-riam as casas dos empregados e militares; na parte baixa desceriam três ruas, com a largura de 80 braças craveiras, assentando-se toda a povoação sobre um quadrado de 200 braças, por 150. Desde esse dia o Padre Chagas ficou residindo na nova Freguesia, em companhia de dois escravos (um seu, de nome Reginaldo e outro de El-rei, chamado Constâncio); dois soldados e dez índios de confiança. Durante a semana trabalhavam na edificação das obras; aos domingos e dias santos a missa era rezada na capelinha do Atalaia.


Em 1821 toda a população branca, que era de 118 pessoas, passou a residir na Freguesia, em 8 casas maiúsculas e 6 minúsculas. O Padre Chagas fez a planta da Matriz, que ainda não estava construída. No local onde foi levantada enterrou-se, em 7 de setembro de 1822, a indiazinha Maria, com 3 meses de idade. Foi a pedra fundamental do novo templo (RIBEIRO, Eurico Branco: p.171).


A Lenda da Santa reforça que, também nesse local, Dª Laura de França Loures havia prometido construir uma igreja para Nossa Senhora de Belém, em agradecimento pela graça que alcançou por ocasião do combate com os índios, no Rio das Mortes.


A conclusão da Matriz levou 40 anos e quase a totalidade da obra foi custeada com a contribuição dos fiéis.


Unidos pela fé, os pioneiros fizeram desse templo o ponto referencial de todas as suas atividades; o seu relógio marcou todas as horas de alegria e tristeza e os sinos não só despertaram os fiéis para os atos religiosos, como se fizeram ouvir por quilômetros de distância, na campanha solitária, anunciando todos os acontecimentos.


Portanto, a Matriz hoje Catedral, tornou-se a testemunha ocular denossa História; foi e continua sendo o nosso mais importante patrimônio cultural, o símbolo da fé e da ordem vigiadas por Nossa Senhora de Belém.


Pertenceu ao Bispado de São Paulo até a emancipação política do Paraná. Após, passou para o Bispado de Curitiba; em 1930 ficou sob a jurisdição do Bispado de Ponta Grossa e, em 1966 tornou-se a Catedral Diocesana do Bispado de Guarapuava.


O tempo passou… as gerações se sucederam e hoje os descendentes dos pioneiros compõem o universo formado por outros que vão chegando, atraídos pela terra dadivosa, sua gente hospitaleira, sua universidade, suas faculdades. A velha Matriz hoje Catedral, responsável por tantas mudanças eclesiais, religiosas, culturais e sociais tornou-se pequena, para dar continuidade à sua missão cumprindo as exigências do novo tempo, daí a necessidade de se construir uma nova Catedral.


A comunidade, que é agradecida, vem contribuindo para a construção dessa nova obra, espelhando-se no exemplo de seus antepassados que, com tantos sacrifícios, nos legaram um belo templo que está sendo preservado como um Santuário.


Aplausos e agradecimentos especiais devem ser consignados aos idealizadores do projeto, que procurou preservar essa relíquia, para nós tão cara, unindo o velho ao novo no mais terno dos abraços, para que fique registrada a sua História na perpétua lembrança das gerações que hão de vir.


Gracita Gruber Marcondes – historiadora e escritora