Não olhe pra trás


Não olhe para trás


 


“Deus, por que ainda não consigo ser feliz, ser esse homem livre que eu quero ser?”


   


É impressionante que Deus só pôde realizar seu plano na vida das pessoas que tiveram a coragem de acreditar no novo d’Ele. Abraão, no capítulo doze de Gêneses, é um velhinho que esperava a morte em Ur da Caldéia, um homem que já estava com noventa anos de idade. Sabemos que os velhos gostam do lugar deles. Aliás, nós vamos descobrindo que estamos ficando velhos quando começamos a nos acostumar: sentamos no mesmo lugar da sala, temos um lugar fixo à mesa, não conseguimos dormir fora do colchão, para viajar tem que levar o travesseiro, vamos nos acomodando, enfim, isso é ser velho. Além de ser velho, ainda fica pensando: “no meu tempo é que era bom”.


 


Abraão era velhinho, e Deus lhe disse: “Sai da tua terra e vai para onde eu te mostrarei”. Ele acreditou e saiu. Quando Deus viu que ele acreditou, disse: “Você vai ser pai”. Sara começou a rir e disse: “Eu já estou com noventa anos, quarenta e seis na menopausa”.


 


(…) O que o “encardido” mais sabe e gosta de ver é o ser humano ficar preso ao passado. Por isso, as pessoas que se deixam conduzir por ele vivem olhando para trás, sempre com saudade do que já foi, e – o pior – não conseguem esquecer o passado. Elas têm uma memória impressionante, e aquele dom de ficar remoendo o passado. Gostam de tratar o passado com carinho, e chegam a ensaiar discurso para falar a uma pessoa que as magoou. A esposa questiona quando o marido chega atrasado em casa. Ela pergunta o porquê do atraso, mas não o escuta, pois já fica pensando no que dizer em seguida, e marca tudo no calendário.


 


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(…) São Jerônimo, o homem que traduziu a Bíblia, viveu vinte e sete anos na gruta de Santa Catarina, embaixo da gruta de Belém onde Jesus nasceu. Jerônimo era um homem rico, bonito, deixou tudo por Deus. Era muito inteligente, de uma cultura fabulosa. Todos os dias, ele rezava, porque queria ser feliz, mas não conseguia, não tinha paz interior. Perguntou, então, para Deus: “Deus, por que ainda não consigo ser feliz, ser esse homem livre que eu quero ser?” Deus disse: “Jerônimo, você precisa me entregar a coisa que você mais ama”. Jerônimo ficava pensando: “Minhas roupas eu não amo mais, eu uso este hábito simples, minha inteligência eu também não amo mais, tanto que eu não leio mais nenhum livro, só livros que me ajudem em minha missão de evangelizar. Eu já entreguei meu corpo, procuro viver no jejum, consagrei-me inteiro na sexualidade, na castidade. O que eu preciso entregar para Deus?” Vinte e sete anos depois ele descobriu, quando o Espírito Santo falou ao coração dele: “Jerônimo, entrega-me os teus pecados”.


 


Você já observou como é absurdo o que o “encardido” faz conosco? Ele é tão terrível que nos faz amar o pecado como a coisa mais importante do mundo. Tanto que você protege mais o pecado do que a sua vida. Há pessoas que guardam seus pecados por anos, elas têm um cofre no coração e arrumam serviço de segurança e monitores para ficarem os vigiando, fazendo de tudo para que eles não fujam. Pessoas com quarenta, sessenta anos de idade e que ainda estão guardando algum pecado da infância, os quais, muitas vezes, nem pecado era, mas acabou se tornando um, pois se tornou um vício.


 


Amamos nossos pecados, amamos o vício. Como os dois compadres que combinaram uma pescaria. Decidiram não beber, por causa da reclamação de suas esposas. Quando se encontraram de manhã, um estava com dois pacotes. O outro falou:


– O que você traz aí?


– Cachaça.


– Mas combinamos que não beberíamos.


– Mas não é para beber mesmo. Se aparecer uma cobra e nos morder, já temos a cachaça para desinfetar.


– E o outro pacote?


– Estou levando a cobra, vai que não aparece nenhuma…


 


Fazemos assim com o pecado: “Quero parar de fumar, mas compro o cigarro”. Tentar diminuir é pior, porque sabemos qual mato é ruim: quanto mais você o corta, mais forte ele vem. Será que não amamos demais o pecado? Não olhe para trás. Quer salvar sua vida? Não olhe para trás.


 


(…) Não adianta só dizer adeus Ano Velho e feliz Ano Novo e levantar com a cara amarrotada, azeda, estátua de sal, desanimada e reclamando. Levanta e a primeira coisa que faz é abrir a página do diário e ficar relembrando tudo de ruim que aconteceu. Nós atualizamos todos os dias nosso coração com o passado e o pecado. Não olhe para trás.


 


Para que tenhamos certeza absoluta de que é possível viver o novo de Deus, Jesus se fez gente em nosso meio. Que maravilha a leitura tirada do profeta Isaías: “Aqueles que andavam nas trevas viram uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu a luz” (Isaías 9,1). Todos nós já andamos nas trevas, pelo pecado que cometemos, ou um erro. Porém, aqueles que habitam as trevas são os que vivem no escuro do pecado. Perceba que o lugar do pecado é escuro: aquela rua escura onde se vende droga, onde as pessoas se prostituem.


 


Jesus veio inaugurar uma era nova, não essa era de que o povo tanto fala. A única era que começa é Jesus: aquele que era e que sempre será. Em João, capítulo um, versículo quatorze: “O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós”.


 


 


Pe. Léo 
Livro Buscai as coisas do alto