Santistas reprovam legalização do aborto

 Domingo, 15 de Abril de 2007.


Da Reportagem EVANDRO SIQUEIRA


  A maioria dos santistas é contra a legalização do aborto e entende que a mulher que interrompe a gravidez propositalmente não deveria ser presa. As conclusões constam de levantamento feito na última quinta-feira pelo Instituto de Pesquisas A Tribuna (IPAT).
  Conforme o estudo, 61,8% não concordam com a legalização, e 60,7% são contra a prisão de quem pratica aborto. Os jovens entre 16 e 18 anos são os que mais condenam o procedimento (76,2%). A aceitação sobe à medida que aumenta a faixa etária, chegando a 39,8% entre adultos de 46 a 55 anos.
  Na comparação por sexo, as santistas se mostram mais restritivas — 66,4% são contra o aborto, enquanto 31,4% dos homens defendem a legalização.
  Segundo a Organização Mundial de Saúde, 50 milhões de abortos ocorrem por ano em todo o planeta. Cerca de 20 milhões de forma clandestina, causando a morte de 78 mil mulheres.
  Foi clandestinamente que Ana (nome fictício), 37 anos, fez o primeiro dos três abortos de sua vida. Aos 23, quando já tinha um filho e já havia feito um aborto, engravidou de gêmeos e tomou até chás de maconha e de buchinha para tentar interromper a gestação indesejada.
  Não conseguiu e decidiu ingerir quatro comprimidos de um medicamento de venda proibida, mas que é facilmente encontrado no câmbio negro. O remédio fez efeito, mas para apenas um dos fetos. O outro resistiu até o sétimo mês de gestação, mas também morreu.
  Aos 28, Ana encarou outra gravidez de gêmeos. Perdeu os bebês em um aborto espontâneo. Dois anos depois, mais uma gestação de gêmeos. Nasceram duas meninas ‘‘perfeitas’’, segundo ela. Hoje, grávida pela sétima vez e em recuperação de uma infecção urinária, diz que se arrepende do que fez.
  ‘‘Fico triste quando vejo amigas abusando de drogas para perder a criança’’, conta a moradora do Macuco. ‘‘Sei que errei. Por isso, não acho certo esse negócio de legalizar o aborto. A mulher sofre demais’’.


LEGISLAÇÃO
No Brasil, a interrupção da gestação só é permitida em casos de estupro ou grave risco para a vida da mulher. Há duas semanas, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, causou polêmica ao defender um plebiscito para ampliar as possibilidades legais de aborto.
  No Congresso, tramita um projeto de lei para descriminalizar a prática, que pode ser punida com um a dez anos de prisão, dependendo do caso.
  Médicos entendem que em situações de má-formação fetal, como a anencefalia, o aborto deveria ser legalizado. Atualmente, a interrupção de gestações desse tipo só pode ser feita mediante autorização da Justiça, que muitas vezes demora para tomar a decisão.
  ‘‘Em casos de má-formação, que não permitem a mínima condição de vida para o bebê, sou a favor do aborto’’, avalia Sérgio Floriano de Toledo, 44 anos, especialista em ginecologia e obstetrícia. ‘‘Muitas vezes, é uma gravidez psicologicamente ruim para a mulher, que fica meses esperando por uma decisão judicial’’.
  O IPAT ouviu 600 pessoas de 31 bairros da Cidade. A margem de erro da pesquisa é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos.